Fazendo Gênero 10 - Desafios atuais dos feminismos
Universidade Federal de Santa Catarina - 16 a 20 de Setembro de 2013
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092. Pensamento das mulheres negras na diáspora
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092. Pensamento das mulheres negras na diáspora

Coordenadoras/es: Cláudia Pons Cardoso (Doutor(a) - Universidade do Estado da Bahia), Jurema Werneck (Doutor(a) - Criola)
Resumo: Este simpósio tem por objetivo reunir pesquisadoras/es para discutir e avaliar as contribuições do pensamento das mulheres negras no contexto da diáspora, em especial do Brasil. São contribuições que advogam a fusão entre práticas e saberes tecidos à luz de suas experiências colonial e pós-colonial, apoiadas em diferentes medidas – ou não – em saberes e práticas oriundos das distintas tradições de origem africana e afro-brasileiras que persistiram ao longo dos séculos.
As mulheres negras, historicamente, têm empreendido diferentes ações de rebeldia e resistência contra as estruturas engendradas pelo racismo patriarcal e pelo pensamento heteronormativo, minando os poderes estabelecidos. Essas ações, que nem sempre se acomodaram aos moldes formais de organização, foram sempre constantes, apesar de ausentes da literatura hegemônica sobre mulheres, feminismos e gênero. Construídas a partir de embates e estratégias de sobrevivência nas sociedades pós-coloniais marcadas pelo racismo e sexismo, representam contrapoderes, esses com potencialidade de instalar cunhas no poder hegemônico e abrir espaços alternativos em áreas fechadas à participação das mulheres negras, como a da produção intelectual.
Os espaços sociais ocupados pelas mulheres negras desde as margens têm sido ressignificados e transformados em espaços políticos para elaboração de práticas emancipatórias e em cenário para reflexões teóricas e produção de conhecimento. São, ainda, lugares de enunciação de identidades políticas opositoras à dominação/exploração impostas por múltiplas hierarquias produzidas pela intersecção do racismo, sexismo, diferenças de classe e heteronormatividade. Nesse movimento, outras teorias e conceitos se fazem necessários para romper com explicações universalistas e dar conta das novas questões e das novas formas de pensar o sujeito em suas múltiplas relações e experiências situadas.
Tendo em vista estas colocações, convidamos as/os pesquisadoras/es a apresentarem seus trabalhos nas múltiplas direções abertas pelas mulheres negras em diferentes áreas do conhecimento. Direções que apontam para ações, discurso, produção escrita e artística, formas de organização social e intervenção política e que expressam uma perspectiva marcada por raça/etnia, classe, religiosidade, diversidade sexual e outros lugares sociais confirmados pelas experiências concretas e particulares das mulheres negras.

Local

Sala 209, Bl. B, 2º Andar, Centro Socioeconômico (CSE)

Debatedores/Sessões

Não foram indicados debatedores.


Programação


16/09 - Segunda-feira
  • Alan Augusto Moraes Ribeiro (Universidade de São Paulo)
    "Blackness": identidades, racismo e masculinidades em bell hooks
    Neste artigo, algumas ideias da intelectual, acadêmica e feminista estadunidense bell hooks aparecem em um recorte analítico que busca compreender como as categorias “Blackness” e “Black experience” são mobilizadas na análise que ela desenvolve sobre representações em torno das masculinidades negras feitas pela mídia e por setores acadêmicos. Assim, busco compreender tal análise como parte das trocas de saberes diaspóricos nas quais bell hooks figura de modo destacado. Ao localizar sua produção neste movimento, a intenção é realizar um exercício de escrita e reflexão sobre o modo como racismo é uma estrutura hegemônica presente em vários setores da vida social, como também no espaço da produção política da diferença. É aqui que sua crítica antirracista toma contornos mais sofisticados ao sugerir que neste plano epistemológico o racismo opera de modo bastante sutil, sobretudo quando procura desmobilizar a legitimidade de saberes e visões de mundo construídas coletivamente, feitos de modos posicionais.
    Palavras-chave: Racismo; Masculinidades; Diáspora.

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  • Cláudia Fabiane da Costa Cambraia (Universidade Nova de Lisboa)
    A voz silenciada da literatura brasileira
    O objetivo deste trabalho é levantar algumas questões sobre gênero e identidade étnica na literatura de autoria feminina negra. Como ocorre a representação da mulher negra na literatura brasileira contemporânea escrita por escritoras afro-brasileiras? Essa questão não se resume a uma única ou uma simples resposta, mas pretendemos levantar algumas considerações sobre o tema a partir do poema Vozes-mulheres, de Conceição Evaristo, que narra a trajetória de mulheres negras de cinco gerações. Analisaremos o poema sob a perspectiva da autoria, o fato do poema ser escrito por uma mulher negra, pois as obras literárias das escritoras negras contemporâneas demonstram o quanto o ponto de vista interno da autoria influencia a voz do eu lírico e os perfis dos personagens construídos. Sendo as mulheres negras invisibilizadas pelas páginas da história oficial brasileira, pelas páginas da imprensa e também pela literatura, as escritoras negras buscam a inserção na literatura brasileira atráves de sua auto-representação.
    Palavras-chave: Gênero; Mulheres negras; Literatura afro-brasileira; Conceição Evaristo.

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  • Sérgio Luz e Souza (Universidade Federal de Santa Catarina)
    O que é ser mulher: análise da poesia de Alzira Rufino e de Afua Cooper
    O abuso do corpo da mulher negra durante o período escravista é largamente conhecido. A dúvida sobre os negros terem alma contribuía para associá-los a animais, portanto seus corpos estariam à disposição para uso. No caso das mulheres, as duas principais circunstâncias para o uso desse corpo eram o trabalho e o sexo. Conseqüentemente, quando a mulher negra passa a ter domínio sobre as narrativas a respeito de si mesma, um dos flagrantes sinais é a tentativa de esconder, anular, ou defender seu corpo. Atualmente, enquanto algumas autoras negras evitam a representação do corpo, outras apropriam-se de tal como uma alternativa de liberdade. Os poemas que integram este trabalho são de autoria da brasileira Alzira Rufino e da canadense Afua Cooper, duas escritoras negras. É perceptível a diferença entre os dois trabalhos. Se, de um lado Rufino opta por um registro mais sutil do corpo e das relações amorosas, do outro, Cooper explora a amplitude da sua condição de mulher, incluindo erotismo. Este texto busca referências em teorias feministas e literárias para discutir as dimensões do que vem a ser mulher a partir da análise de poemas selecionados de cada autora.
    Palavras-chave: Mulher; Poesia; Alzira; Afua.

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  • Raquel Souzas (Universidade Federal da Bahia)
    Análise de discurso de mulheres negras and quilombolas sobre liberdade, violência, racismo e discriminações no âmbito da conjugalidade(Bahia, 2012)
    A saúde reprodutiva relaciona-se ao usufruto da liberdade intrínseca aos direitos sexuais e reprodutivos. A questão central, neste trabalho, é como a noção de liberdade, violência e do racismo/discriminação se articulam à condição social, de gênero, raça/etnia. O objetivos analisar concepções/ representações sociais sobre liberdade, violência, racismo, discriminações e violência presentes nos discursos de mulheres negras e quilombolas, inseridas numa relação conjugal. A pesquisa é de natureza qualitativa e aborda questões reprodutivas de mulheres, a partir de um recorte de gênero e raça. Foram entrevistadas 25 mulheres negra e quilombolas em união conjugal há, pelo menos, um ano. Os discursos foram analisados a partir do software NVIVO. As diferenças de discurso em relação à liberdade e concepções de racismo podem estar relacionadas tanto à questão do racismo no Brasil, historicamente vivenciado por mulheres negras no cotidiano, como às questões especificamente culturais dos grupos de mulheres em foco nesse estudo.
    Palavras-chave: Gênero; Raça/etnia e saúde.

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  • Gabriela Eltz Brum (Universidade Federal de Santa Catarina)
    Questões de raça e representação pictorial no ekphrástico livro "Who Look at Me," da poeta afro-americana June Jordan
    Publicado em 1969 como um livro infantil de poesia e dedicado ao filho único de June Jordan, Christopher, "Who Look at Me" é o primeiro livro publicado por Jordan. O livro é um longo poema "ekphrástico" o qual foi inspirado por vinte e sete quadros pintados por artistas americanos negros e brancos. Richard Flynn, em seu ensaio "Affirmative Acts" comenta que o título serve como um refrão do "Black English," uma chamada seguida de respostas, uma litania das maneiras as quais Afro-Americanos são representados, ou melhor, não representados na cultura branca ocidental" (Still Seeking an Attitude 124). O poema é sobre raça e representação pictorial e demonstra as condições dos Afro-Americanos em uma sociedade branca através da história, bem como a maneira que os brancos olham para eles e o modo como eles olham de volta para os brancos. As estanzas podem ser divididas em dois tipos: enquanto algumas estão em conversação com a reprodução das pinturas, outras não correspondem às mesmas. Embora o poema possa ser lido como um texto somente, uma apreciação completa de seu impacto somente é possível quando o leitor observa o diálogo entre o texto e a reprodução das pinturas.
    Palavras-chave: Literatura afro-americana; June Jordan; Ekphrasis; Poesia.

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  • Alex Ratts (Universidade Federal de Goiás)
    A escrita das irmãs/hermanas/sisters: notas preliminares acerca da obra não ficcional de autoras negras
    Ativistas e acadêmicas/os que transitam entre os movimentos negro, feminista e lgbt em seus escritos e falas públicas se referem aos textos não ficcionais de autora negras cuja produção passa a circular no Brasil nos anos 1970, sobretudo na década seguinte e em períodos posteriores. Sem almejar fazer um levantamento extenso de artigos acadêmicos e de opinião, destaco temas que permeiam a obra não ficcional de autoras negras brasileiras e estadunidenses, dentre os quais: 1. A escrita de si em relação às outras mulheres, aos homens e ao país, focando a experiência de ser mulher negra, de viver o racismo, o sexismo e, também, a situação de pobreza, incluindo a ênfase das razões da escrita, da busca artística; 2. A reflexão acerca de corpo e imagem;3. Os escritos que tratam da afetividade; 4. A “interseccionalidade” (antes de existir o conceito) entre raça, sexo, classe e também, espaço, assim como outros “marcadores da diferença”; 5. Distintas e diferenciadas aproximações com o feminismo. Observo esta aproximação de perspectiva entre escritoras negras ou não brancas, brasileiras e estadunidenses como Lélia Gonzalez (1935-1994), Beatriz Nascimento (1942-1995), Barbara Christian (1943-2000) e Gloria Anzaldúa (1942-2004), mas também Toni Morrison (1931) e Alice Walker (1944).
    Palavras-chave: Escritoras negras; Interseccionalidade; Feminismo.

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17/09 - Terça-feira
  • Priscila Cristina Freitas (Universidade do Estado de Santa Catarina)
    Da educação ao samba: uma breve biografia de Dona Uda Gonzaga
    Este artigo investiga sobre uma mulher negra moradora da comunidade do Mont Serrat, localidade situada na cidade de Florianópolis/SC. A personagem deste artigo se chama Uda Gonzaga, uma mulher que nasceu, cresceu, casou nesta comunidade. Ela tem dois amores na vida: seu trabalho voluntário na Escola Básica Lucia do Livramento Mayvorne e a Escola de samba Embaixada Copa Lord as duas situadas na comunidade do Mont Serrat. Na Escola Básica lecionou e mesmo aposentada continuou a contribuir com a escola fazendo trabalhos voluntários para as crianças e adolescentes. Estas crianças têm uma gratidão enorme por esta mulher e a casa dela sempre está cheio de crianças. Na escola de samba embaixada Copa Lord foi a primeira mulher assumir a presidência.
    Palavras-chave: Educação; Samba; Mulher negra.

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  • Cristiano Santos Rodrigues (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
    Atualidade do conceito de interseccionalidade para a pesquisa e prática feminista no Brasil
    Interseccionalidade, conceito cunhado e difundido por feministas negras nos anos 1980, constituí-se em ferramenta teórico-metodológica fundamental para ativistas e teóricas feministas comprometidas com análises que desvelem os processos de interação entre relações de poder e categorias como classe, gênero e raça em contextos individuais, práticas coletivas e arranjos culturais/institucionais. Há, contudo, uma plêiade, por vezes contraditória e vazia de sentido, de usos e concepções acerca do conceito. No presente texto, analiso a recepção e difusão do conceito de interseccionalidade no Brasil e sua influência sobre o pensamento feminista negro no país. Na primeira parte do artigo, apresento a emergência desse conceito em contexto norte-americano e sua recepção no Brasil. A seguir, me debruço sobre os múltiplos sentidos que o conceito tem adquirido, sobretudo no que tange à quais, e em que contextos, categorias de diferenciação privilegiar, ao peso conferido às relações de poder e ao espaço de negociação, individual e/ou coletiva, conferido aos atores sociais. Finalmente, reflito sobre a atualidade do conceito para estudos de gênero no Brasil, argumentando que um de seus pontos fracos - sua maleabilidade e imprecisão teórica - também garante sua vivacidade e popularidade.
    Palavras-chave: Interseccionalidade; Feminismo negro; Categorias de diferenciação; Estudos de gênero.

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  • Ana Claudia Jaquetto Pereira (Universidade Estadual do Rio de Janeiro)
    Feminismo negro no Brasil: a luta política como espaço de formulação de um pensamento social e político subalterno
    Neste trabalho, esboço uma análise de ideias desenvolvidas pelo movimento de mulheres negras nos últimos 30 anos, buscando identificar elementos centrais de um pensamento social e político do feminismo negro brasileiro. Para tanto, divido minhas considerações em três etapas.
    Em um primeiro momento, recorro a estudos sobre o movimento de mulheres negras, bem como à Análise Crítica do Discurso de textos produzidos no contexto de militância. Desta forma, tento compreender como o movimento, em sua diversidade interna, articula conceitos como “opressão”, “cidadania”, “democracia” e “participação política”.
    Em seguida, procuro dimensionar a originalidade do feminismo negro a partir de uma comparação com a bibliografia canônica sobre relações raciais e democracia em quatro aspectos: lugares de produção e finalidade do conhecimento; experiência individual e estrutura social; o papel do Estado na democracia; interação entre raça, classe social e gênero.
    Por fim, sugiro que o pensamento que emerge da mobilização de feministas negras propõe questões e alternativas que não são comportadas pelo discurso acadêmico tradicional, oferecendo leituras do mundo social mais complexas, propostas concretas de transformação social e formulações acessíveis a um público não-acadêmico.
    Palavras-chave: Feminismo negro; Relações raciais; Pensamento social; Democracia.

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  • Silvana Santos Bispo (Secretaria da Educação do Estado da Bahia)
    Mulheres Negras: ativismo e paradoxos na luta antirracista e antissexista na Bahia
    Para nós, mulheres negras, de tempos e lugares diferenciados, perceber como as interseções das discriminações correlatas do racismo e do sexismo se estabelecem, envolvem um exercício político, simbólico e de posicionamento. Assim, as reflexões sobre essa temática se constitui de circunstâncias objetivas, que busca, sobretudo, poder registrar, debater e reconhecer que tais sujeitos são históricos e se inscrevem em um contexto de múltiplas mobilizações e bandeiras políticas. Nesse sentido, a presente comunicação pretende discutir as principais intersecções do/s movimento/s de mulher/es negra/s a fim de analisar as relações com o Movimento Negro Unificado – Salvador, e com o movimento feminista. Para isso, fiz uso do dimensionamento teórico-metodológico da história oral, da produção escrita por mulheres e organizações negras brasileiras, para apreender as memórias, identidades e trajetórias políticas, a partir da fala de algumas ativistas negras que residem na capital baiana entre.
    Palavras-chave: Mulheres negras; Relações de poder; Organização política.

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  • Cláudia Pons Cardoso (Universidade do Estado da Bahia)
    A construção da identidade feminista negra: experiências de mulheres negras brasileiras
    Este artigo, resultado de pesquisa de doutoramento, construído com base em entrevistas com ativistas negras brasileiras, tendo por orientação metodológica a História Oral, tem como objetivo apresentar os elementos operacionalizados por ativistas identificadas como feministas negras na construção da identidade feminista negra.
    Em que pese a incidência nas trajetórias individuais de vários fatores definidores para a construção de si mesmas como sujeitos políticos, as entrevistadas trazem a presença de desafios comuns vividos pelo coletivo como fundamentais para a identificação delas com o feminismo. Assim, a caminhada em direção à tomada de consciência da opressão de gênero foi promovida pela compreensão do racismo e da discriminação racial como determinantes para a exclusão das mulheres negras, pela participação nos movimentos de mulheres negras e pelo embate político com o feminismo hegemônico branco, do qual são críticas. Crítica que remonta aos anos de 1970 e 1980 e se volta para a inadequação de certo feminismo manifesto no país, que toma como princípio as experiências das mulheres brancas e de classe média, desconsiderando outros determinantes como raça e classe. Nesse sentido, as feministas negras empreenderam a racialização de gênero entre os movimentos de mulheres.
    Palavras-chave: Mulheres negras brasileiras; Gênero; Raça; Feminismo negro.

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  • Marcia Cristina de Vasconcellos (Fundação Educacional Unificada Campograndense)
    Mulheres escravas, filhos, padrinhos e madrinhas: estratégias presentes na pia batismal, litoral sul-fluminense, século XIX
    A cerimônia de batismo de crianças escravas era um dos momentos para que suas mães pudessem estabelecer laços de compadrio com indivíduos de condições jurídicas variadas (livres, forros ou cativos), ampliando os vínculos parentais e de amizade. Após a análise dos registros paroquiais citados, dos casamentos e de inventários post-mortem de Angra dos Reis, datados do século XIX, objetiva-se verificar as estratégias adotadas pelas cativas quanto a escolha de "pais espirituais" para seus filhos. Quais os possíveis motivos ao escolher livres como compadres? Estes teriam alguma importância social na localidade, podendo vir a beneficiar mãe e afilhado em momentos adversos? Tais questões são algumas das formuladas para a presente apresentação.
    Palavras-chave: Mulheres escravas; Família; Solidariedade; Século XIX.

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