Fazendo Gênero 10 - Desafios atuais dos feminismos
Universidade Federal de Santa Catarina - 16 a 20 de Setembro de 2013
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037. Envelhecimentos, Relações de Gênero e Sexualidades: desafios contemporâneos
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037. Envelhecimentos, Relações de Gênero e Sexualidades: desafios contemporâneos

Coordenadoras/es: Guita Grin Debert (Livre Docência - Universidade Estadual de Campinas), Júlio Assis Simões (Doutor(a) - Universidade de São Paulo)
Resumo: Os complexos processos sociais relacionados às experiências de envelhecimento populacional contemporâneo trazem consigo importantes desafios tanto para as práticas de gestão da velhice e do envelhecimento, quanto para os campos multidisciplinares interessados em refletir e atuar sobre tais processos. As próprias idéias de "envelhecimento" e "velhice" atuais têm passado por profundos processos sócio-culturais de recriação e reinvenção. Além disso, o entrelaçamento das relações de gênero com os envelhecimentos e velhices contemporâneos traz também desafios em especial para os feminismos na atualidade, assim como para os campos de estudos de gênero e sexualidade, levando em consideração, por exemplo, a assunção de uma ênfase na "feminização da velhice" a partir de taxas de longevidade populacional mais altas para as mulheres. Sob essa ótica, a análise das experiências atuais de envelhecimentos precisa estar sensibilizada por recortes de gênero e sexualidade, assim como por outros marcadores operantes socialmente, como classe, "raça"/etnia, relações geracionais, localidade, entre outros.
Questões de envelhecimento analisadas sob um viés de sexualidade, orientação sexual e identidade de gênero também têm chamado a atenção de pesquisadoras/es nos últimos anos, resultando em um importante campo nascente. O advento da medicalização da sexualidade nos momentos mais avançados do curso da vida, assim como os elementos sociais de contestação e ressignificação das expectativas sociais próprias para a meia idade e a velhice, produzem elementos rentáveis para se refletir sobre os eixos aqui propostos. Além do mais, as representações sociais que postulam uma ausência de práticas sexuais ou da importância do erotismo na velhice tem sido questionadas e problematizadas nos últimos anos, atentando para as tensões representacionais e analíticas decorrentes tanto da negação e apagamento da sexualidade na velhice, quanto da sua afirmação e defesa taxativas.
Considerando as questões expostas, este Simpósio Temático pretende congregar pesquisas de vários campos disciplinares e que abordem de distintas maneiras as inter-relações entre envelhecimentos, velhices, relações de gênero e sexualidades na contemporaneidade, a partir, por exemplo, de análises sobre representações sociais, políticas públicas, contextos de institucionalização de idosos, contextos familiares, experiências de violência contra idosos, práticas sexuais, processos de medicalização, o cuidado e as/os cuidadoras/es de idosos, conjugalidade, parentalidade, masculinidades, envelhecimentos e velhices de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros, ativismos e movimentos feministas e LGBTs, redes de apoio social na velhice, relações geracionais, sociabilidades, usos e apropriações do espaço, aposentadoria e seguridade social, usos da internet e do Ciberespaço, entre outras.

Local

Auditório do NETI – Núcleo de Estudos da Terceira Idade (ao lado do Teatro da UFSC)

Debatedores/Sessões

Sessão 1: Bila Sorj


Programação


16/09 - Segunda-feira
  • Rachel Aisengart Menezes (Instituto de Estudos em Saúde Coletiva)
    Sexualidade e cuidados paliativos: Produção de sentido na busca da “boa morte”
    Este trabalho aborda a incitação ao exercício da sexualidade de doentes terminais, por equipes de cuidados paliativos, no ideário da “boa morte”. Em pesquisa etnográfica em congresso internacional de Cuidados Paliativos, em 2010, observamos uma sessão dedicada à apresentação de trabalhos sobre as práticas e os significados da sexualidade, para pacientes atendidos em unidades paliativas e para seus/suas companheiros/as. A especialidade de atenção à saúde denominada cuidados paliativos caracteriza-se pela produção de um modelo de “qualidade de vida” para a última fase da vida. Concepções produzidas por equipes paliativistas acerca de “completude da vida” e “resolução das pendências” marcam a intervenção no período terminal da vida. Tal modelo aglutina diversas constelações simbólicas, como a noção de pessoa, o conforto físico, o controle dos sintomas, a expressão emocional, a dimensão espiritual, as interações afetivas e, agora, a experiência da sexualidade. Examinamos a emergência de questões referentes à sexualidade como objeto de intervenção dos especialistas de cuidados paliativos, no sentido de incorporar tópicos vinculados ao contato corporal íntimo e relacionamento de casal – seja entre pares hetero ou homossexuais – como elementos que demandam novas normatizações.
    Palavras-chave: Cuidados paliativos; Sexualidade; Morte.

  • Murilo Peixoto da Mota (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
    Homossexualidade e envelhecimento: as trajetórias da vida de homens gays de camadas médias no Rio de Janeiro
    Este artigo toma como ponto de partida uma pesquisa que teve como objetivo analisar as dimensões socioculturais sobre a homossexualidade e o envelhecimento a partir da trajetória de vida de homens gays, com mais de sessenta anos, provenientes de camadas médias e moradores da cidade do Rio de Janeiro. A homossexualidade masculina e o envelhecimento são tratados a partir dos aportes teóricos de autores alinhados à perspectiva da construção social, que tornaram esse debate complexo e profícuo, permitindo investigar a agência desses indivíduos. Diante do estigma de ser gay e velho, examina-se como são as experiências relacionais e quais estilos de vida são construídos e experimentados por estes homens. São destacadas as lembranças da construção da homossexualidade no curso da vida e as experiências sexuais no âmbito de sua motivação, roteiro e os significados da amizade.
    Palavras-chave: Homossexualidade; Envelhecimento; Identidade sexual.

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  • Talita Pereira de Castro (Universidade Estadual de Campinas)
    Um olhar sobre concepções de juventude e maturidade na literatura de autoajuda
    Partindo da pesquisa que desenvolvo desde 2007 sobre o conteúdo de livros classificados pelo mercado editorial como autoajuda, publicados no Brasil e nos Estados Unidos da América nos últimos quarenta anos, proponho uma análise das imagens do curso da vida que essa produção enseja, contrapondo seus ideais de juventude e maturidade. Por meio da intersecção analítica entre os marcadores sociais da diferença de gênero, idade e classe social, busco nas figuras de homens e mulheres, no início e no auge da vida adulta, determinados significados associados ao curso da vida que quase sempre alocam na meia-idade o momento de verdadeiro e definitivo desenvolvimento do self, de conquista da subjetividade. Tudo se passa como se a juventude fosse construída como o momento, por excelência, da experimentação, dos riscos, da futilidade e das crenças cegas e errôneas; enquanto a meia-idade, quase sempre ensejada por uma forte crise de identidade, é construída como um momento de felicidade, superação e certezas sólidas, garantidas por meio da auto realização e do autoconhecimento. Busco, além da exploração das diferenças constituintes dos recortes de gênero e nacionais entre os dois países, aqueles elementos que contribuem para a construção de um curso da vida mais ou menos linear.
    Palavras-chave: Autoajuda; Curso da vida; Gênero; Juventude; Meia-idade.

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  • Guilherme Rodrigues Passamani (Universidade Estadual de Campinas)
    Velhice, homossexualidades e memória: Notas de campo no Pantanal Sul-matogrossense
    Nesta comunicação discuto memória e velhice a partir de um trabalho de campo realizado na cidade de Corumbá-MS. Os sujeitos desta pesquisa são homens com idades superiores a 60 anos, pertencentes às camadas médias e populares. O interesse do trabalho recai sobre os processos empreendidos, por meio da memória, para reconstituir os melhores anos da vida. Daremos especial atenção às notas sobre os fervos e farras de meados do século XX, e a relação com os marinheiros, ponto nodal para compreender os melhores anos da vida. Por outro lado, parece ser importante a dinâmica que faz com que a velhice ocupe um lugar incômodo para alguns destes sujeitos, que acabam lançando mão de estratégias para afastar-se dela; ou, para outros, que compreendem aceitar a espera do fim como a melhor alternativa. Assim, a velhice aparece ora como algo a ser combatido, ora como um processo inevitável que exige resignação. Dessa forma, parece ser interessante um debate sobre curso da vida e velhice positiva, à luz destas experiências de campo.
    Palavras-chave: Velhice; Homossexualidade; Memória; Curso da vida; Velhice positiva.

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  • Marcio Zamboni (Universidade de São Paulo)
    HIV, saberes médicos e envelhecimento nas narrativas de homens homossexuais
    O objetivo deste trabalho é analisar o lugar do diagnóstico de HIV/AIDS no processo de envelhecimento de homens homossexuais na faixa de 45 a 55 anos, tendo contraído o vírus no primeiro momento da epidemia no Brasil, em meados dos anos 1980. A análise partirá do trabalho de campo que tenho realizado na cidade de São Paulo desde 2009 junto a uma rede de homens e mulheres homossexuais de Camadas altas. A questão da AIDS foi um problema que se impôs a partir do trabalho de campo: uma temática que perpassou as narrativas sem que fosse preciso inquirir sobre o assunto e que se mostrou bastante significativa na trajetória dos interlocutores, mesmo para aqueles que não vivem com o vírus. Queremos então compreender as dinâmicas através das quais esses sujeitos agenciam saberes médicos na gestão de seus corpos articulando cuidados associados ao diagnóstico com a experiência mais ampla de envelhecimento.
    Palavras-chave: Homossexualidade; HIV/AIDS; Envelhecimento.

  • Vanessa Sander Serra e Meira (Universidade Estadual de Campinas)
    Patologização das travestilidades: Entre a doença nos manuais e a saúde no cotidiano travesti
    Essa pesquisa busca observar as descrições e as classificações das experiências travestis através de sua caracterização nos documentos produzidos pelas agências de saúde: o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, e a Classificação Internacional de Doenças. Contrapondo os consensos e controvérsias envolvidos na elaboração das categorias de doenças mentais, que atribuem significados às travestilidades, fez-se necessário conhecer os significados que as próprias travestis criam para suas experiências e para as categorizações que recebem da ciência. Para tal, realizei uma etnografia em áreas de prostituição de travestis em Belo Horizonte, onde as taxonomias dos manuais de enfermidades mentais, e as concepções nativas de saúde, sexo e mudanças corporais foram amplamente discutidas . Observando a forma com que as travestilidades vinculam a materialidade do corpo com a performatividade de gênero, é possível fazer reflexões sobre suas características, noções de estética, saúde, dor e sexualidade, que costuma divergir-se da ciência, e se relacionam com as dinâmicas da prostituição e com a interseccionalidade entre sexo, gênero e geração, que propicia corpos e performances diferenciadas dentro da categoria travesti.
    Palavras-chave: Patologização; Travestilidades; Corpo; Saúde; Experiências geracionais.

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  • Marcelo de Paula Pereira Perilo (Universidade Estadual de Campinas)
    Gênero, sexualidade e juventude: Sobre produção da diferença e mudança social em sociabilidades de adolescentes homossexuais no espaço urbano
    Nesta comunicação, busco discutir sobre produção de espaços e a produção da diferença no espaço em contextos urbanos. A partir de uma etnografia realizada na cidade de Goiânia, reflito as trajetórias de adolescentes homossexuais e as diferenças em questão em distintos lugares, como um parque público e uma boate. Destaco a emergência de processos de mudança social caracterizados pela transformação no lugar social da homossexualidade e por mudanças nas convenções sociais de gênero e sexualidade no Brasil contemporâneo tendo vista as sociabilidades desses adolescentes em grandes centros urbanos. Essa análise é realizada mediante a intersecção entre sexualidade e outros marcadores sociais da diferença, como gênero, cor/raça, classe e geração, além da reflexão sobre cursos da vida.
    Palavras-chave: Sexualidade; Juventude; Diferença; Sociability ; Espaço urbano.

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  • Rafael do Nascimento Cesar (Universidade Estadual de Campinas)
    Composições além da música: Chiquinha Gonzaga e o amante adotado
    Este trabalho parte do relacionamento intergeracional entre a compositora Chiquinha Gonzaga e João Batista Fernandes Lage, seu último companheiro afetivo e filho adotivo, com o intuito de investigar as negociações simbólicas realizadas por ambos perante a sociedade carioca no início do século XX. Com medo de que tal atitude pusesse em xeque o prestígio de uma carreira já consolidada, Chiquinha Gonzaga, aos 52 anos, adota seu companheiro, de 16, que passa a se chamar João Batista Gonzaga. Tendo como foco as intersecções entre marcadores de diferença como gênero, classe social e idade, busca-se analisar como certos papéis sociais femininos (a esposa e a mãe, por exemplo) marcam ao mesmo tempo em que estão marcados pelo processo histórico de cronologização da vida, no qual se encontram as formas socialmente legítimas de constituição do corpo e da sexualidade. Neste sentido, o caso de Chiquinha Gonzaga e João Batista é interessante na medida em que problematiza essas construções.
    Palavras-chave: Chiquinha Gonzaga; Gênero; Sexualidade; Relações intergeracionais.

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17/09 - Terça-feira
  • Russell Parry Scott (Universidade Federal de Pernambuco)
    Avós jovens: Estrategias intergeracionais e maternidade adolescente
    No estudo do Grupo Fages, Três Pólos de Desenvolvimento e a vida sexual e reprodutiva de mulheres jovens, sobre mães adolescentes em Pernambuco, entre 2010 e 2012, apoiado pela FACEPE, as recém-avós, mães de mães adolescentes, elaboram práticas individuais e coletivas, constroem significados e organizam cuidados demandados pela maternidade adolescente. A maioria destas se tornara avó com trinta e poucos anos. Como esta juventude se articula com a busca das autonomias das pessoas nas suas famílias ampliadas. Ser referência feminina numa geração superior de um grupo de pelo menos três gerações exige práticas na articulação de relações intergeracionais em torno da maternidade adolescente. Observações in loco, entrevistas com 24 avôs jovens e 416 questionários permitem discutir 1) tradições familiares, 2) articulações intergeracionais de práticas de cuidado, 3) a relação com parceiros, e 4) a relação com educação, trabalho e a esfera pública. Entendendo as avós jovens como buscando hegemonia num campo da distinção feminina associada à maternidade, elabora uma analogia às ideias Loic Waquant sobre agencia de corpos e relações construídas em torno de boxeadores, pensando as facilitações e barreiras erguidas em torno de mulheres jovens avós como parte de uma agência feminina.
    Palavras-chave: Avós; Maternidade juvenil; Gerações; Agência; Práticas e significados.

  • Natalia Negretti (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
    Apontamentos preliminares da pesquisa “Entre muros e trajetórias de envelhecimento - As tias de ‘idade’ e as tias ‘de cadeia’ na Penitenciária Feminina de Sant’Ana”
    Essa proposta de comunicação contempla dados qualitativos preliminares de uma pesquisa de mestrado em 2013, “Entre muros e trajetórias de envelhecimento - As tias de ‘idade’ e as tias ‘de cadeia’ na Penitenciária Feminina de Sant’Ana (PFS)”. A intenção é atentar-se aos eixos de diferenciação entre as presas da PFS consideradas tias, ‘de idade’ e ‘de cadeia’, em resumo, as presas consideradas mulheres mais velhas que chegam à prisão ‘tardiamente’ e as reincidentes e apontar suas percepções a respeito de sexualidade tanto no processo de envelhecimento quanto em situação de aprisionamento e se possível, cruzando as duas situações. A tentativa será de exemplificar especificidades destes processos entrecruzados a partir de trajetórias de vida de mulheres que recebem visita íntima de companheiros e de mulheres de que não recebem este tipo de visita e ainda as que não tem essa visita autorizada, devido a burocracia exigida e difícil de ser atingida através de comprovação legal deste direito. O objetivo é refletir sobre processos de envelhecimento nesta penitenciária e na(s) sexualidade(s) praticadas e percebidas por tais mulheres. É interessante notar as especificidades no discurso e na dinâmica da ‘prática e percepção da sexualidade’ entre essas chamadas mulheres mais velhas.
    Palavras-chave: Envelhecimento; Prisão; Sexualidade.

  • Raphael Bispo (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
    Retratos da solidão na velhice: sofrimentos e sensibilidades femininas de artistas populares
    Durante os anos 1970 e 1980, um conjunto de dançarinas sensuais, as chacretes, ganhou destaque na televisão. Passados os anos do estrelato, a presente comunicação analisa a trajetória de vida da primeira geração de chacretes, hoje com mais de sessenta anos de idade. A partir de uma pesquisa etnográfica, pretende-se debater suas experiências contemporâneas de solidão. Pode-se dizer que tal emoção é uma temática constante e, ao mesmo tempo, quase ausente na literatura especializada dedicada ao envelhecimento. Tal paradoxo se impõe porque, enquanto valorizou-se a vida ativa da “terceira idade” nesses estudos, a solidão emergiu como tema a ser confrontado, logo, pouco pesquisado. Afinal, os velhos não são necessariamente solitários. Assim, procuramos contribuir neste trabalho para uma etnografia da solidão feminina na velhice. A proposta é de que por meio da ideia do “retrato” é possível adentrar e contextualizar a experiência emocional dos indivíduos. Estar sozinho só faz sentido a partir de determinadas condições sociais específicas, principalmente quando notamos certos marcadores sociais da diferença como a idade, o gênero, a sexualidade e a classe diretamente articulados a tal vivência emocional.
    Palavras-chave: Gênero; Sexualidade; Envelhecimento; Solidão; Mundo artístico.

  • Paola Gambarotto (Universidade Estadual de Campinas)
    A idade que chega. A experiência do envelhecer em meio a novos discursos e imagens do envelhecimento
    O significado da constatação de que se está envelhecendo não se liga necessariamente à idade que se tem, mas ao corpo e suas possibilidades. Essa autopercepção mobiliza parâmetros construídos discursivamente e traduzidos em imagens que opõem o corpo velho ao ideal do corpo jovem; destaca-se, porém, que o indivíduo não é passivo à recepção dessas imagens e discursos e que os ressignifica de diferentes formas, tornando a própria definição do envelhecimento e da velhice heterogêneas e vinculadas às diferentes trajetórias de vida perpassadas por estruturantes sociais, como gênero, geração, raça e classe social. Esses estruturantes da vida social não são concebidos como imperativos que se impõem sobre os indivíduos, mas marcadores cujos significados se constroem na vida social, a essa altura se faz necessário afirmar que a relação entre fatores estruturantes e a agência dos indivíduos se insere em um contexto histórico específico, o qual significa a experiência do envelhecer de uma forma diferente em relação a um passado não tão distante. Essa proposta também irá reconstruir a atual forma de gestão da velhice, marcada por uma nova sensibilidade em relação a essa etapa do curso da vida, que se expressa pelo uso de termos como terceira idade, idoso, velhice ativa.
    Palavras-chave: Envelhecimento; Discursos especializados; Gênero; Trajetória de vida.

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  • Lucas Tramontano (Instituto de Medicina Social)
    A meia-idade e o sexo como qualidade de vida
    Esse trabalho aborda a caracterização da meia-idade como um período privilegiado para reinvenção de si, absorvendo o ideal de envelhecimento ativo e a atividade sexual como um dos pilares para a "qualidade de vida" na velhice. A análise parte de entrevistas realizadas durante a pesquisa para o mestrado em Saúde Coletiva (IMS-UERJ) com urologistas e endocrinologistas que trabalham com a Deficiência Androgênica do Envelhecimento Masculino e a reposição de testosterona. Nesses relatos, o tratamento hormonal é uma questão de qualidade de vida, pois o homem, "mesmo aos 60 anos de idade, tem o direito de ter níveis de testosterona similares aos de um indivíduo mais jovem". A redução biológica do sexo característica da medicina sexual mantém a ereção como o centro da vida sexual masculina, reafirmando valores da masculinidade tradicional e respondendo ao "perigo" da desgenerificação da velhice. O objetivo desse trabalho é pensar como esses discursos influenciam a meia-idade, um período difuso que marca a passagem da vida adulta para a velhice. Num contexto de reformulação da masculinidade hegemônica, a meia-idade surge como um ponto-chave, no qual o homem deve mudar hábitos e comportamentos visando aumentar sua qualidade de vida para poder usufruir das vantagens do envelhecimento ativo.
    Palavras-chave: Meia-idade; Envelhecimento ativo; Masculinidade; Reposição de testosterona.

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  • Andrea Lacombe (Universidade Estadual de Campinas)
    Regimes de visibilidade, mudança social e convenções sobre sexualidade e envelhecimento: Um estudo entre mulheres que mantêm relações homossexuais em Buenos Aires
    O objetivo deste trabalho consiste em analisar a relação entre geração e vivências da sexualidade entre mulheres que mantêm relações homossexuais em Buenos Aires, no intuito de entender a especificidade das formas contemporâneas de sociabilidade e erotismo entre mulheres, tal como ocorrem na região latino-americana. A pesquisa está focada nas trajetórias de vida de mulheres de diversas camadas sociais, com idades entre 40 e 70. Levando em conta que os processos de sociabilidade e erotismo envolvem a produção de identidades e de subjetividades, além de estar inseridos em um contexto mais amplo de modernização e globalização, estruturarei o trabalho em torno a três eixos: 1) a economia da visibilidade/invisibilidade como regime de produção de subjetividade e sociabilidade; 2) as diferentes convenções de família e amizades presentes nesse regime; e 3) uma análise classificatória das denominações e auto-referencialidades. Esta pesquisa faz parte do meu trabalho de pós-doutorado (PAGU/UNICAMP) que será desenvolvido também na cidade de São Paulo.
    Palavras-chave: Geração; Lesbianismo; Convenções sociais; Sexualidade.

  • Carlos Eduardo Henning (Universidade Estadual de Campinas)
    O panorama heteronormativo sobre a velhice e a literatura que entrelaça homossexualidade, bissexualidade, transgêneros e envelhecimento
    Nas últimas décadas pesquisadores das áreas de gerontologia social, ciências sociais e de vários campos disciplinares começaram a perscrutar as possíveis configurações e desafios característicos do envelhecimento de indivíduos que se identificam como gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. Nesse ínterim, muitos investigadores têm sugerido que os modelos e dados disponíveis acerca de "envelhecimentos heterossexuais" são insuficientes para compreender as complexas experiências de envelhecimento e velhice de sujeitos que divergem de prerrogativas normativas em termos de gênero e sexualidade. Esse amplo conjunto de literatura investigativa abordando o entrelaçamento de velhices, homossexualidade masculina e feminina, bissexualidade e transgêneros, é marcadamente diverso, provindo de campos multidisciplinares e atravessado por polêmicas. Além disso, se trata de investigações que têm contribuído para o desenvolvimento de saberes e discursos acerca da diversidade de experiências de envelhecimentos, especialmente quanto aos desejos, práticas sexuais, identidades sexuais e de gênero. Sendo assim, o objetivo deste paper é analisar e problematizar o “panorama heteronormativo” que repousa sobre a velhice, em diálogo com a literatura que tem sido chamada de Gerontologia LGBT.
    Palavras-chave: Velhice; Sexualidades; Gênero; Homoerotismo; Gerontologia LGBT; Envelhecimento.

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  • Fabio Ronaldo da Silva (Universidade Federal de Pernambuco), Paulo Roberto Souto Maior Júnior (Universidade Federal de Pernambuco), Rosilene Dias Montenegro (Universidade Federal de Campina Grande)
    “Questão de tempo”: As ideias de velhice pela revista "Junior"
    Mesmo estando inseridos de diferentes formas e momentos na história pela afirmação e visibilidade da identidade homoerótica, para os homossexuais idosos, quase sempre, é oferecido o silêncio, o não-lugar, pois entre os vários preconceitos existentes entre os homossexuais, estão aqueles contra os que dão “pinta”, isto é, que possuem trejeitos femininos, e entre aqueles que são “bichas mariconas”. Todavia, em alguns poucos momentos, é possível encontrar algumas narrativas ou representações sobre os mesmos, seja em trabalhos acadêmicos, revistas, livros ou filmes. Partindo desta premissa, a presente proposta de artigo visa analisar a narrativa de homossexuais idosos sobre gênero e velhice em dois dossiês publicados na Júnior, revista homoerótica de circulação nacional, bem como problematizar a ideia de velhice que essa publicação trará, visto que, esse periódico é voltado para um público gay que aprecia, acima de tudo, homens jovens, viris e musculosos. Procuramos interrogar como essa publicação homoerótica mostra e representa o homossexual idoso no Brasil, levando em consideração que é preciso problematizar a velhice e o corpo como variáveis de mudanças e inovações culturais no mundo contemporâneo, no qual o indivíduo idoso é agente constituidor de novos estilos de vida.
    Palavras-chave: Revista Júnior; Homossexualidade; Envelhecimento.

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  • Thiago Cesário da Hora (Universidade Estadual de Campinas)
    "Faça sua doação": Representações da velhice asilada e suas relações com o ideal de envelhecimento
    Numa tarde de segunda feira, no caminho entre a rodoviária de Campinas e a universidade, um outdoor me chamou a atenção: Nele constavam o nome e os contatos de um asilo da cidade, a frase “faça sua doação” e a foto em preto e branco de um homem velho, de cabeça baixa e mãos estendidas. Num mundo em que se nota o surgimento de novas e múltiplas representações do envelhecimento, diligentemente calcadas nos aspectos mais benéficos, prazerosos e joviais possíveis, é de causar estranhamento a presença de uma cena tão francamente depreciativa como a do referido outdoor. Em sua intenção específica (angariar doações), a veiculação de tal imagem evidencia mais do que um aparente anacronismo figurativo: ela não só reafirma a coexistência de duas concepções distintas de envelhecimento, mas também dá indícios dos dispositivos através dos quais estas concepções, notadamente opostas, se definem mutuamente. Observando algumas fotos e campanhas publicitárias de instituições asilares, colhidas na internet, o presente artigo propõe uma breve discussão acerca das representações da velhice institucionalizada em relação aos novos e já consolidados modelos ideais de envelhecimento.
    Palavras-chave: Envelhecimento; Publicidade; Asilo.


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