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21. Escritas de si, escritas do outro: feminismos e subjetividade

Coordenador@s: Cristina Maria Teixeira Stevens (UNB), Diva do Couto Gontijo Muniz (UnB)
Com o declínio da esfera pública e a crescente espetacularização da intimidade, na (Pós) Modernidade, as narrativas de si, - correspondências, diários, memórias, autobiografias e blogs - adquirem enorme importância para as mulheres, já que escrever é romper com o anonimato; é fazer existir publicamente. Por meio do texto, das entrevistas gravadas aos usos da internet, ou por outros meios de expressão literária e artística, as formas de arquivamento do eu podem indicar tanto a busca de um refúgio diante das ameaças do mundo público, quanto um dar-se a ver, a partir da construção da própria imagem. Visam escapar das formas biopolíticas, sutis e moleculares, de captura do corpo e de imposição de identidades naturalizadas, permitindo uma abertura para o trabalho de deslocamento subjetivo e ressignificação do próprio passado, para além das conexões com o outro. Nos relatos autobiográficos, as mulheres registram suas memórias vivenciais, que, em muitos caos, necessitam ser grafadas como modo de elaboração de processos traumáticos, vividos sob ditaduras militares, em hospícios ou prisões, ou em deslocamentos migratórios forçados. Subvertendo a autobiografia clássica confessional, a “escrita de si”, na perspectiva feminista, referenciada pelas problematizações de Foucault e Deleuze, aparece como uma escrita relacional, aberta para problematizar a diferença e escutar o outro. Trata-se, portanto, de práticas da liberdade na reinvenção de si, que se inserem, porém, num amplo quadro de investimento em conexões e rizomas com o mundo exterior.
A partir dessas considerações, este Simpósio Temático convida as/os interessadas/os a compartilharem suas pesquisas e reflexões feministas, a respeito tanto dos desejos e motivos que levam a arquivar a própria vida, quanto das formas narrativas e imagéticas com as quais operam as mulheres.

Local: Auditório do CFH

Resumos


24/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Rosamaria Carneiro (Unicamp)
    "Dor de parto", mas o que é isso? Deslocamentos e perspectivas da sexualidade feminina
    Este artigo tem por escopo problematizar a noção médica e sócio-cultural de dor durante o trabalho de parto. Para isso, pretende partir de um lugar específico: de um círculo de vozes femininas fugidias. Considerando meu diário de campo junto a um grupo de preparo para o parto humanizado - Samaúma (Campinas-SP) - pretendo tematizar a existência de outras percepções acerca do que se dá no corpo da parturiente. Da dinâmica desse grupo - encontros, relatos, escrita e produção de imagens – tenho depreendido a existência de uma espécie de ‘desejo das sensações’. Essas mulheres têm recusado analgesia no momento do parto porque ‘querem senti-lo, experimentá-lo’, mas, sobretudo, porque não entendem as transformações corporais que lhe são próprias no registro da dor, padecimento e negatividade. Entre elas, acessar a ‘partolândia’ – estado alterado de consciência ou ‘transe’ durante o trabalho de parto – é uma experiência única e pode ser inclusive prazerosa, configurando um ‘parto orgástico’. Por isso, para vivenciá-la é preciso sentir e ‘entregar-se’.Dessa maneira, partindo dessas impressões etnográficas, almejo refletir sobre essas práticas à luz de suas contribuições e tensões para o pensamento feminista contemporâneo, que tem revisitado e desconstruído as identidades fixas.
  • Adriana Silva (Unicamp)
    A poética do cotidiano com Clarice Lispector: emergindo imagens da maternidade clandestina
    A presente comunicação apresenta um fragmento da pesquisa de Mestrado defendida em 2008, no depto de cinema do Instituto de Artes da Unicamp, dentro da linha de pesquisa Cinema Ficcional, História e Processos Criativos, tendo como referências: a inspiração literária da obra de Clarice Lispector, em especial Laços de Família e A Via Crucis do Corpo e a busca de uma poética do cotidiano através de memórias vivenciais de uma mulher (eu), com ênfase no corpo feminino, histórico e subjetivo. O processo de criação, objetivando a elaboração de roteiros audiovisuais desencadeou a construção de imagens com intensa interface subjetiva entre a minha experiência de maternidade, as personagens de Clarice Lispector e a experiência do meu nascimento nos anos 70, uma maternidade clandestina na ditadura militar no Brasil. O roteiro apresentado na dissertação de mestrado intitulado “A MÃE”, apresenta mulheres em tempos distintos vivenciando a fragilidade do corpo feminino na maternidade clandestina, seja na clandestinidade pela opção política do passado, como na contemporânea solidão urbana das mulheres que tem em seu corpo ‘fértil’ a armadilha da captura do corpo na imposição do mito do amor materno. Na escrita de mim, do(as) outros(as) emergem imagens de mulheres entre o amor, o medo e a dor.
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  • Maria Celia Orlato Selem (Unicamp)
    Práticas de liberdade frente à memória traumática em “La teta asustada”
    Utilizando o filme “La teta asustada”, da diretora peruana Claudia Llosa, busco pensar os usos do passado com base nos estudos feministas e na noção foulcautiana de estética da existência. Por meio de imagens e tempos da memória em filmes dirigidos por mulheres latino-americanas, atento para a desestabilização dos objetos e sujeitos que compõem as narrativas históricas tradicionais. As vivências da personagem Fausta no filme em questão podem ser pensadas como práticas de si diante da memória traumática da violência contra as mulheres nos terrorismos de Estado. As práticas feministas no cinema podem possibilitar novas subjetividades por meio do exercício de si na construção de um presente mais ético.
  • Diva do Couto Gontijo Muniz (UnB)
    Que rainha sou eu? As escritas de Carlota Joaquina
    Uma leitura feminista de três séries de cartas de Carlota Joaquina, princesa e depois rainha de Portugal, é a comunicação proposta para o simpósio. O objetivo é o de mostrar como a escrita do outro ignorou a diversidade, a riqueza da experiência política de Carlota Joaquina, apontada, em nuances, na extensa correspondência de sua autoria, reduzindo-a a uma imagem caricata. A força dessa representação, produzida por um discurso historiográfico misógino e xenófobo, evidencia-se em sua permanência no imaginário social brasileiro. Trata-se de construto ancorado em um tempo social e cultural que envolvia, não apenas o jogo político marcado pelo sentimento nacionalista e anti-hispânico, mas sobretudo o sexismo hierarquizador. Um sexismo reafirmado principalmente pela concepção iluminista e rousseauniana de que política não era assunto de mulheres.
  • Maria Elizabeth Ribeiro Carneiro (UFU)
    Experiências de dor, resistências e liberdades: pequenas histórias de escravas fugidas
    A comunicação reúne escritas da imprensa, não expressões de própria lavra de escravas no Rio de Janeiro oitocentista, mas que expõe suas resistências em relação aos dispositivos de “captura do corpo e de imposição de identidades naturalizadas” e exprimem a agonia e força da ordem escravocrata. A escrita de si que propomos é a historiadora, que procura “problematizar a diferença e escutar o outro”, e exercitar a re-significação do passado na análise de avisos de fuga de mulheres que escaparam, ainda que não registrassem suas agruras, alianças e negociações em relação aos poderes do patriarcado na experiência da monarquia constitucional escravista. Christina, “figura bonita, lavadeira e engommadeira”, Felizarda, “fraca figura, tem um dedo indicador da mão esquerda alejado, uma orelha defeituosa, falta de dentes na frente, volta os pés ao andar, para fora”, Fortunata, “crioula, retinta, cabello grande repartido do lado, bem fallante, manqueja de uma perna”, Ignez, “bem feita de corpo, testa larga, nariz chato, beiços arrebitados para cima e para baixo, bons dentes, sendo quatro na frente postiços”, são algumas das marcas expostas nas páginas do Jornal do Commercio. São vestígios de corpos “viciosos” em condutas transgressoras que permitem entretecer pequenas histórias de vidas.
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  • Cláudia de Jesus Maia (UNIMONTES), Telma Borges da Silva
    Representações de si e do outro nos contos de autoria feminina na revista Alterosa
    O presente trabalho tem como proposta analisar contos de autoria feminina publicados pela revista Alterosa, editada na capital mineira entre 1939 e 1964. Era mensal e destinada à toda família, talvez por isso, abriu espaço para as mulheres em várias de suas seções, dentre elas, a de contos. A partir de 1946 a revista passou a realizar concursos para essa seção, muitos dos quais vencidos por mulheres. Os contos, mesmo sendo textos ficcionais, são práticas discursivas que instituem sentidos, modos de vida, formas de ver e se posicionar no mundo. Nesse trabalho buscamos entender as representações que as mulheres constroem de outras mulheres e de si mesmas. Sabemos que, mesmo tendo o caráter de seção “livre”, a revista direcionava o “conteúdo” dos textos a serem enviados e selecionava aqueles que melhor atendiam aos seus interesses. Não obstante, o que procuramos perceber nesses contos não foi a reificação/instituição de ideais femininos, o que de maneira geral fazia a revista, mas a utilização da escrita e sua publicização como linha de fuga e forma de as escritoras romperem o “anonimato” e, ao mesmo tempo, manifestarem insatisfações com os ordenamentos da vida cotidiana; ou seja, tentamos perceber até que ponto as escritoras da Alterosa faziam da escrita um exercício de liberdade.

25/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Susel Oliveira da Rosa (Unicamp)
    "Querida Lila": as correspondências do exílio
    Ao longo de sua vida, Danda Prado – feminista brasileira que, desde os anos 70, luta contra as capturas biopolíticas que circunscrevem os corpos femininos – escreveu inúmeras cartas. Algumas delas foram produzidas nos anos que permaneceu exilada em Paris, durante a ditadura militar. Parte delas destinadas a “Lila”. “Lila” era um dos codinomes de Yara Gouvêa, militante de esquerda que viveu longos anos de exílio na Argélia. Yara narra parte de sua trajetória – em conjunto com Danielle Birck – no livro Duas Vozes.
    Nas correspondências destinadas a “Lila”, Danda falava da situação dos exilados em Paris, das notícias que tinha do Brasil, dos movimentos feministas – narrando as reuniões do Grupo Latino-Americano de Mulheres em Paris e a publicação do Nosotras –, indignava-se com a situação de violência à qual estavam submetidas milhões de mulheres em todo o mundo, divulgava o crescimento de um movimento feminista internacional, entre inúmeras outras coisas. Eram cartas nas quais Danda também falava de si, de suas percepções acerca do que acontecia à sua volta e queria saber de “Lila”. Cartas que amenizavam a solidão do exílio, proporcionando – como diz Foucault – “ao que se viu ou pensou um olhar possível”.
  • Julia Glaciela da Silva Oliveira (Unicamp)
    Mudanças políticas, transformações subjetivas: a UMSP e o curso de Promotoras Legais Populares
    A proposta deste trabalho é apresentar como a associação feminista “União de Mulheres de São Paulo” (UMSP), vem confrontando, por meio de diversas atividades e do curso de Promotoras Legais Populares (PLP), os discursos misóginos que naturalizam a violência de gênero. Dessa forma, a associação tem aberto espaço para a constituição de novas formas de subjetividades femininas. O curso de PLPs realiza-se em São Paulo há 15 anos, tendo por objetivo desenvolver junto às mulheres da periferia da cidade, noções básicas de Direito, a partir de uma perspectiva de gênero. As aulas são realizadas por advogadas, promotoras e outras feministas, que abordam temas, tais como o aborto, o feminicidio, a violência sexista e a legislação. Busca-se, também, refletir acerca dos discursos biologizantes que constituem, sobretudo no campo do Direito, as reafirmações das desigualdades de gênero. Ao romper com o silêncio em torno das diversas formas de violência relegadas aos corpos femininos, essas mulheres têm possibilitado outros modos de pensar o feminino, dissociando-o dos discursos normativos que banalizam e naturalizam tais práticas. Além do acesso à cidadania, esse espaço e a militância do grupo, possibilitam às mulheres novos olhares sobre si mesmas, outras relações com seus corpos e seus afetos, outras constituições de si.
  • Marilda Ionta (UFV)
    Narrativas de si na cultura digital: entrando no acaso dos blogs
    Os weblogs podem ser lidos como arquivos pessoais na rede, um espaço privilegiado de narrativa de si ligado a cultura digital. Como se sabe, a internet possibilitou escoar discursos inibidos pelos mass média. A existência de milhares de ciberdiários de escreventes comuns ou renomadas indica que ocorreu uma liberação do pólo da emissão na atual sociedade de informação. Assim, contemporâneamente, estamos distantes das condições históricas narradas por Virgínia Woolf, em seu conhecido texto de 1928 intitulado: A room of one’s ows, onde a autora dá visibilidade aos obstáculos sociais, econômicos e intelectuais enfrentados pelas mulheres escritoras de seu tempo. Mas a intelectual nos deixa de herança o gesto indagador de nossa atualidade e sobre as condições de produção onde uma nova forma de escrita de si realiza. Nessa direção, pergunta-se nesta comunicação: quais são as chances e os perigos para as mulheres da liberação do pólo da emissão nas sociedades de controle/informação/comunicação? Qual a gramática dessa escritura de si realizada pelas mulheres contemporaneamente na internet? Quais os desejos e motivos que levam algumas bloguistas a dar-se a ver num espaço público fragmentado sem totalização?
  • Norma Abreu Telles (PUC-SP)
    Estrelas na areia
    Escritora, jornalista, romancista, Isabelle Eberhardt foi uma viajante apaixonada pelo deserto e pela busca de si através da escrita. Esta comunicação segue seu nomadismo pelo Norte da Africa e suas escrituras, vislumbrando a mulher de letras e o cavaleiro intrépido em correrias e galopes pelas areias, e pela vida, sob o céu estrelado do Saara.
  • Diony Maria Oliveira Soares (UERJ)
    Na cor vermelho carmim escarlate: um breve foco em escrituras das afro-brasileiras Elisa Lucinda e Nega Gizza
    Esse trabalho propõe reflexão sobre escrituras criadas, respectivamente, por Elisa Lucinda e Nega Gizza. Duas mulheres afro-brasileiras. Um texto cultural de cada uma. Do livro O Semelhante foram pinçados versos de Safena. Do disco Na Humildade, a letra de Prostituta. A intenção é fazer livres deslocamentos: literatura, música popular, questões de gênero, relações étnico-raciais. Tudo pode ser deslocado quando se trata da construção de textos fronteiriços, que escorrem pelas fendas, aparentemente sem a preocupação com o estabelecimento de contra-narrativas ou de narrativas que visem tecer grupos no tempo e no espaço, no sentido das comunidades imaginadas propostas por Benedict Anderson. Quando a diferença é o tempero principal, tudo pode entrar como ingrediente básico. E é exatamente neste sentido que o espanto e a subversão do jogo do poder podem acontecer. Como ferramentas: análises de aspectos relacionados a mulheres negras na diáspora (Barbara Christian e bell hooks), sugestões sobre a pós-modernidade (Zygmunt Bauman), a perspectiva foucaultiana de poder.
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  • Vania Maria Ferreira Vasconcelos (UnB)
    Rosário de mulher:a maternidade como um elo criativo e solidário entre mulheres na escrita de Conceição Evaristo
    A experiência da maternidade segue sendo um desejo de muitas mulheres, tanto por representar um amadurecimento físico natural, quanto por ser uma experiência emocional/ relacional de inigualável realização. No entanto, hoje, esta experiência é, teoricamente,uma opção e não uma imposição, o que a torna mais valorosa. A opção traz a variedade.Muitas são as situações de maternidade possível.Longe da visão estereotipada e limitada da ótica patriarcal, o olhar feminista contemporâneo tem trazido à tona os novos rumos que a mulher vai traçando Nesse sentido, é fundamental conhecer o que nos diz a literatura de vertente afro-brasileira escrita por mulheres, que traz as imagens dessa mulher duplamente discriminada e que, no entanto, traduz, em algumas escritoras a opção de, pela via duma ficção ou poesia que mistura memória e resgate crítico, retalhos de uma sociedade pouco visitada pela literatura. Investigaremos a imagem da maternidade nas obras Becos da Memória(romance) e Poemas da recordação e outros movimentos (Poesia), de Conceição Evaristo, anotando a escrita de si como reveladora da escrita de grupo, a representação da solidariedade entre mulheres através das gerações e da experiência maternal, além, é claro, da riqueza poética de sua linguagem
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  • Janaina Gomes Fontes (UnB)
    O que aconteceu com Hetty? A história contada e recontada da personagem do romance Adam Bede, de George Eliot
    Como saber o que realmente aconteceu? Não sofrem os relatos as interferências dos pontos de vista, das opiniões, dos valores de quem relata? A própria história é composta de relatos, que necessariamente são produzidos pelo historiador. Se a própria história, com toda a sua metodologia e esforço não consegue se ver livre da subjetividade de quem a conta, o que dizer dos testemunhos de pessoas comuns? A personagem Hetty Sorrel, do romance Adam Bede, de 1859, tem sua vida decidida pelos testemunhos de pessoas que, de alguma forma, tentaram explicar, no tribunal, a morte de seu bebê. Ao escrever a história de Hetty, baseada em fatos reais, a escritora inglesa de pseudônimo George Eliot apresenta o tema da maternidade, inovador para a literatura da época, tema que ainda hoje merece novos estudos e sob uma forma polêmica, infanticídio, com a ambiguidade de quem critica o comportamento da personagem ou o fato de que a própria Hetty nunca conta a sua versão dos fatos. Dessa forma, pretendo apresentar uma análise dessa história, que entre silêncio e relatos, pode trazer contribuições para as discussões dos estudos de gênero, que procuram, constantemente, resgatar o que foi ou esteve silenciado.
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26/08 - Quinta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Luzia Margareth Rago (Unicamp)
    “Poéticas da diversidade: a narrativa de si de Sueli Carneiro”
    Trabalho, nessa comunicação, com as memórias, depoimentos e escritos da filósofa e militante feminista Sueli Carneiro, uma das fundadoras do GELEDÉS, Instituto da Mulher Negra, em São Paulo, em 1988. Considerando as entrevistas realizadas como relatos autobiográficos, na perspectiva aberta por Philippe Lejeune e Georges Gusdorf, examino a maneira pela qual a sua narrativa desloca a autobiografia confessional, já que não se trata de um retorno a si em busca de uma verdade essencial, mas de uma releitura do passado como modo de atualizar a experiência pessoal na escrita e ressignificar o presente. Próxima ao que Foucault denomina de “escrita de si”, mas também marcada pela perspectiva feminista, essa cartografia de si aparece ainda como uma escrita relacional, isto é, aberta para problematizar a diferença e escutar o outro. Nesse movimento de reconfiguração da própria subjetividade, emergem histórias individuais e coletivas, especialmente marcadas pela memória traumática do estigma, do preconceito e do racismo, mas também das lutas das mulheres e dos homens negros, assim como do Movimento Negro Unificado, no Brasil.
  • Alice Mitika Koshiyama (USP)
    Comunicação, história e gênero: representações ficcionais de processos de escrita como estratégias de elaboração da subjetividade
    A obra de Simone Beauvoir, O Segundo Sexo, reafirma a revolucionária possibilidade de que mulheres são sujeitos da história e sujeitos de suas histórias. Na atualidade, temos obras que mostram mulheres em luta para assumir sua condição de sujeitos da história, ao reavaliar papéis impostos pela cultura dominante. Analisamos o filme Educação (An Education, Reino Unido, 2010), que trata dos conflitos pessoais, em uma perspectiva de gênero, de uma estudante do último ano da escola secundária. A protagonista do filme, uma garota dos anos 60 do século passado, vive m Londres, é branca de classe média e abandona o colégio diante da promessa de um casamento rico, ilusão logo perdida, pois o noivo era casado e pai e seduzir mocinhas era seu passatempo. A garota sofre mas compreende a sua possibilidade de viver e trabalhar no que aprecia se conseguisse ingressar na universidade para estudar literatura inglesa, o que o faz com o apoio decisivo de uma professora empenhada em transformar mocinhas ingênuas em seres independentes. A narrativa acompanha a trajetória da protagonista em suas limitadas escolhas de vida e o texto nos faz cúmplices da complexidade dos processos da escrita de si e da escrita do outro. Concluímos com Beauvoir que a mulher se faz, mas na interdependência dos que com ela convivem e são seus potenciais educadores – os outros – nos lares, nas escolas e na vida.
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  • Luana Saturnino Tvardovskas (Unicamp)
    Elementos autobiográficos na arte contemporânea de mulheres: a produção de Ana Miguel e Rosana Paulino
    Pretendo, nessa comunicação, abordar um aspecto da produção artística contemporânea, a saber, a utilização de elementos autobiográficos em instalações, pinturas, literatura e performances, dando destaque à arte de Ana Miguel (1962) e Rosana Paulino (1967). Interessa-me aqui observar como esse é um campo que formula críticas culturais contundentes, sobretudo por problematizar esferas historicamente consideradas “femininas”, como a memória, a casa e o corpo. Tais imagens artísticas conectam-se com críticas feministas contemporâneas, como a descontrução das identidades sexualmente hierarquizadas, as disputas pela revisão do passado escravocrata e patriarcal do Brasil, assim como uma dissolução da dicotomia entre o espaço público e privado. Deste modo, elege-se aqui obras inquietantes e disruptivas, que confrontam os enunciados firmados socialmente e promovem “linhas de fuga” para as políticas de subjetivação estabelecidas.
  • Francineide Santos Palmeira (POSAFRO - UFBA)
    Escritoras negras e representações de insurgência
    Os Cadernos Negros, antologia anual que publica produções artísticas dos afro-brasileiros, surgiram em São Paulo no final do século XX. De autoria variada, essa antologia poética já publicou mais de trinta volumes, sendo os números ímpares dedicados aos poemas e os volumes de números pares, aos contos. Os escritores e escritoras dessa coletânea possuem entre seus objetivos alterar/discutir a representação negativa acerca dos afrodescendentes. Tendo em vista as informações anteriores, a pesquisa Vozes Femininas nos Cadernos Negros: representações de insurgência buscou verificar como são construídas as representações de mulheres negras na produção feminina publicada nessa antologia afro-brasileira. A investigação se deu por meio da apreciação de contos e poemas das escritoras publicadas nessa antologia no período compreendido entre 1978 e 2006. Para realização deste estudo, privilegiou-se uma análise embasada em textos dos Estudos Culturais, da Literatura Comparada e da Afrodescendência, além de textos que discutam maneiras contemporâneas de representações de gênero.


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  • Eliane Terezinha do Amaral Campello (UCPel)
    Rachel Jardim inscreve-se em Vazio pleno: relatório do cotidiano
    O diário tornou-se um dos gêneros textuais mais valorizados após o advento da crítica literária feminista. Rachel Jardim, em Vazio pleno: relatório do cotidiano (1976), construído na forma de um diário, apresenta-se como uma écriture híbrida, na medida em que, por um lado, des/vela o processo de subjetivação da autora/narradora e, por outro, rompe com características da autobiografia tradicional. Sem conseguir, entretanto, escapar à “escrita de si”, nesta obra, Rachel filia-se ao veio intimista (de introspecção), uma das marcas mais consistentes da literatura brasileira de autoria feminina.
  • Conceição Flores (UNP)
    Teresa Margarida da Silva e Orta e a “escrita de si”
    Este trabalho visa apresentar “a escrita de si” de Teresa Margarida da Silva e Orta (1711-1793), escritora luso-brasileira, autora de As aventuras de Diófanes (1752). Nas cartas para Frei Manuel do Cenáculo, bispo de Beja e pertencente à Real Mesa Censória, a autora expõe as sua aflições causadas pelos amores do filho mais novo com uma familiar de Pombal, buscando um intercessor que faça a sua defesa perante o poderoso marquês. Mais tarde, já desenganada e encarcerada, dirige os seus “prantos” a Deus num poema autobiográfico em que narra todas as desventuras sofridas no cárcere. Também intercede junto à rainha D. Maria, pedindo-lhe que tenha compaixão de “uma triste encarcerada”. Partindo do conceito de “escrita de si” (Foucault) e de escrita autobiográfica (Lejeune), apresentaremos as figurações da autora e as marrcas da dor presentes nesses textos.
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