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51. Leituras da diversidade: imaginários, cosmovisões e contestações

Coordenador@s: Pedro Carlos Louzada da Fonseca (UFG), Tânia Regina Oliveira Ramos (UFSC)
O simpósio aceitará trabalhos que proponham investigar o papel das construções históricas, culturais e ideológicas do gênero e dos seus desdobramentos. Com enfoque na questão da representação literária nas suas variadas formas – mas também podendo se expandir para considerações interdisciplinares –, o simpósio propõe a leitura de narrativas, poesias, cartas, diários e outras formas literárias menos convencionais que analisem e critiquem a difusão de imaginários e cosmovisões comprometidos com posturas de dominação e poder, a exemplo da ordem patriarcal. Leituras de tipos de representação literária, na contramão dessa direção, poderão conferir um tratamento dialético à questão, principalmente em relação contestária ao problema da instituição do gênero e das formas de sexualidade enquanto identidades plurais.

Local: Sala 407 CCE/B (Sala Machado de Assis)

Resumos


24/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Marcio Markendorf (Faculdades Borges de Mendonça)
    A memória de gênero nas cinebiografias
    A biografia cinematográfica dedicada a artistas e escritores, tanto quanto nos tradicionais modelos de papel, apresenta romantizadas representações de personalidades. Grande parte das cinebiografias desses 'talentos excepcionais' é enfeixada por clichês narrativos marcados por visões estereotipadas de gênero. Não é de modo ingênuo que a desestruturação da carreira dos homens, por exemplo, está focada em proposições hostis e violentas da personalidade e/ou em componentes externos ao sujeito (álcool, drogas, jogo, acidente). O fim prematuro da carreira das mulheres, de outra sorte, parece ser definido por pressupostos de desagregação interna (depressão, trauma, ciúme, amor, loucura, suicídio). Assim, homens e mulheres são alocados em lados opostos de um discurso binário por conta das amarras de gênero e da força sedutora das matérias sensacionais, fatores responsáveis por distinguir nas representações um modo gendrado de sentir, pensar e agir. Com base nessas hipóteses, pretendo questionar películas culturalmente marcadas pela corporalidade dos gêneros, além de discutir o tema da memória sob a ótica da ficção cinematográfica da vida de artistas.
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  • Davi de Souza (UFSC)
    Literatura fescenina: a singularidade de Cesar de Castro
    A literatura brasileira fescenina, ou “pornográfica”, do início do século XX é bastante tímida, se desconsiderarmos a margem e os “marginais”. César de Castro (1884-1930), além de ser um esteta lingüístico, é um desses “marginais” que tocou, e de modo mui peculiar, a questão do homo-erotismo, sendo quase pornográfico sem ser, no entanto, vulgar. Expor seu erotismo e contextualizar sua singularidade dentro da literatura “erótica” e “marginal” das primeiras décadas do século XX, colocando em relevo, e em contraposição, a visão comum do homo-erotismo de alguns autores, é o propósito desta apresentação.
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  • Vanessa Gomes Franca (UFG / UEG), Edilson Alves de Souza (UEG)
    O engendramento do pecado na animalização misógina do feminino na tradição bestiária medieval
    O pecado é um tema recorrente na tradição medieval. Os homens e as mulheres da Idade Média aparecem dominados por ele. Por esse motivo, inicia-se uma classificação “maníaca” proposta por clérigos, teólogos e pesquisadores. Dessa atividade, surge uma lista que apresentava os sete pecados e as sete virtudes capitais. O setenário dos pecados e das virtudes é largamente difundido no Bestiário ou “Livro das Bestas”. Neste, vemos a descrição de espécimes de alimárias-modelo – reais ou fabulosas – que deviam ou não ser seguidas, edificando por tese e antítese, ou seja, pelo bem e pelo mal. Por essa razão, tais bestas são relacionadas aos setenários. A simbologia existente no que era descrito sobre as animálias, consoante à cultura cristã mediévica, objetivava passar uma lição, um exemplo moral e/ou catequético baseado em ensinamentos bíblicos. Ademais, notamos em tais códices a presença de um discurso de gênero acentuado por atitudes misóginas, devido a associação do feminino ao pernicioso, ao demonológico. Tendo como base o exposto, nosso estudo tem como objetivo verificar a animalização misógina do feminino na tradição bestiária medieval.
  • Tânia Regina Oliveira Ramos (UFSC)
    Os afetos que se encerram
    Recupero para apresentar o meu texto a metáfora sempre significativa do risco do bordado. É necessário debruçarmo-nos sobre os vários pontos que serão preenchidos por linhas, cores, toques, retoques, mesclas, arremates, avesso e direito destes contemporâneos textos que buscam uma espécie de realismo afetivo. Paralela à nossa atividade de resgate de um silêncio nunca totalmente preenchido de vozes caladas pelo século XIX e XX que nos preocuparmos também por esse constante devir da representação do feminino. Há neste momento uma mulher sendo escrita, letras mortas, letras tortas para o exercício da crítica. O que quero salientar é que a busca de compreensão de alguns textos contemporaníssimos, escritos por mulheres, escritas de si, prosas, memórias, exigem uma busca de categorias que nos permitam dar conta de leituras da diversidades que, queiramos ou não, são efetivamente próximas, novas e nossas. E nos afetam.
  • Mary Jane Fernandes Franco (FURG)
    Yarina: a mulher da língua de mel
    No romance Yuxin (2009), Ana Miranda, a exemplo do que havia feito em Desmundo (1996), em Amirik (1997) e em Dias & Dias (2002) atribui um relevo especial à experiência, à história e à voz da mulher. Desta vez, a autora recria, através da personagem Yarina, uma jovem índia brasileira, um retrato da vida de homens, mulheres e crianças que habitam a floresta amazônica no início do século XX. As diferenças entre o universo feminino e masculino, bem como as diversidades culturais entre brancos e índios são evidenciadas pela narradora-protagonista que, enquanto aguarda o retorno de Xumani, seu marido, borda o kene e desfia um mundo de sombra e de luz, de sons e de silêncios, de corpos e almas. Assim sendo, neste trabalho irei analisar a trajetória de Yarina em busca do que há de mais íntimo na sua relação com a natureza e com a cultura.
  • Raul José Matos de Arruda Filho (UFSC)
    Sombra paterna e fraternidade cindida (sobre "'A margem da linha", de Paulo Rodrigues)
    A estrutura narrativa do romance “À margem da linha” está centrada no percurso (geográfico, emocional) dos irmãos adolescentes (narrador e Mano), que fugiram de casa para procurar pelo pai desaparecido.
    Durante a fuga/procura, caminhando pelos trilhos do trem, os irmãos conversam – trocando palavras como quem troca tiros. Em situações pouco nítidas, onde o idealismo predomina sobre o esclarecimento, o desentendimento surge como resultado natural. Ou seja, os irmãos discordam porque percebem que, assim como a linha férrea, a vida está repleta de bifurcações – sem saber que caminho devem seguir, sem alguma alternativa segura onde possam se escorar, o narrador e o Mano rompem com as amarras ideológicas de dois grandes mitos familiares: a paternidade e a fraternidade.
    Com o desaparecimento do pai mítico, também desaparecem os laços fraternos – transformados em estranhos, os irmãos se separam.

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  • Rosa Maria Hessel Silveira (ULBRA / UFRGS), Iara Tatiana Bonin (ULBRA)
    Questões de gênero em representações de "ser velha" na literatura para crianças
    As conexões entre a temática da velhice e as questões de gênero têm propiciado estudos que focalizam, entre outras dimensões, as imagens tradicionais do “ser velha”, no gênero feminino, e as novas configurações da velhice (saudável, ativa, auto-responsável), que estabelecem outras exigências às mulheres dessa “idade da vida”. Neste estudo, parte-se da relevância da literatura infantil no cenário cultural e de seu potencial pedagógico, para dar corpo à análise das formas de representação de “ser velha” em textos verbais e imagéticos de obras escritas para crianças. Para tanto, foram selecionados 20 títulos de publicação recente, cujo tema central fosse a velhice protagonizada por personagens mulheres. As análises das personagens idosas, de seu papel na trama, de sua caracterização através de atividades e atitudes, assim como de sua representação imagética, nos mostraram a coexistência entre marcadores de uma “velhice tradicional”, indicada por marcas no corpo e desempenho de atividades “femininas” (fazer bolinhos, tricotar, mimar os netos), e imagens de “novas velhas”, ativas, sexuadas, autônomas, que, inclusive, protagonizam movimentos explícitos de recusa a um status de “velhice inútil e decadente”.
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25/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Maria Ivonete Santos Silva (UFU)
    A loucura e as heroínas de Juan Rulfo
    Resumo - A produção literária de Rulfo é breve, porém o impacto e a influência exercidos sobre a narrativa hispano-americana tem sido considerados um divisor-de-água. O “antes” e o “depois” de Rulfo são demarcados pelo exercício da sua prosa carregada de intensidade e precisão; três ou quatro palavras do autor conseguem produzir imagens extraordinárias, além de sentidos múltiplos que seduzem o leitor a acompanhar passo a passo, mesmo que aterrorizado, as inúmeras histórias de personagens que transitam da realidade fantástico-fantasmagórica, até o cruel mundo de sofrimentos e de perdas irreparáveis. As mulheres, na narrativa de Rulfo, são alvo de violências que ultrapassam o limite do vivos e, por isso mesmo, ineragem com o mundo dos mortos. É vivendo o "trânisto", ou "transpasse" de uma realidade à outra que personagens dilaceradas pela dor encontram na loucura o refúgio ou superação de todos os infortúnios
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  • Pedro Carlos Louzada da Fonseca (UFG)
    Duas noções fundadoras da construção da inferioridade feminina: o fisiologismo de Aristóteles e o etimologismo de Santo Isidoro de Sevilha
    Este estudo examina duas das principais noções que podem ser consideradas como fundadoras na formação da tradição antifeminista historicamente radicada na cultura e literatura europeias. A primeira delas são os clássicos postulados de Aristóteles (384-322 a. C.) sobre a fisiologia da mulher, onde o filósofo reduziu o papel da fêmea na procriação àquele de matéria prima simplesmente, a esperar a agência formadora ou movimentadora do sêmen do macho. Essa consideração aristotélica certamente consubstanciou uma ultrajante equação entre mulher e matéria, a qual encontrou apoio e ressonância filosófico-linguística nos estudos de etimologia de Santo Isidoro de Sevilha (c. 570-636). Esta é a segunda das noções mencionadas acima. Dessa forma, o que em o Estagirita está derrogatoriamente para a ginecologia antifeminista, em Santo Isidoro de Sevilha está, analogamente, para a derrogação da mulher em termos de linguagem e de pensamento misóginos da Idade Média. De maneira comparativa e crítica, o estudo aponta e discute essas noções basilares da tradição antifeminista europeia, por meio da seleção e da citação de significativas partes da De generatione animalium [Sobre a geração dos animais], de Aristóteles e das Etymologiae [Etimologias], de Santo Isidoro de Sevilha.
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  • Eliane Santana Dias Debus (Unisul)
    Meninas negras na literatura infantil brasileira: relações de gênero e questões étnico-raciais
    O foco de reflexão desta comunicação recai sobre a leitura de livros de literatura de recepção infantil e sobre como eles tematizam as relações de gênero e as questões étnico-raciais, a partir da caracterização das personagens femininas, neste caso meninas. Os livros escolhidos para análise são Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado; Conceição de Vila Rica, de Joaquim Borges; Rufina, de Marciano Vasques; Luana: a menina que viu o Brasil nenê, de Aroldo Macedo e Uma maré de desejos, de Georgina Martins. Além de trazerem meninas negras como personagens, as narrativas escolhidas se interligam por essas mesmas personagens se encontrarem em espaços contemporâneos, representadas em suas atividades cotidianas. Com esta reflexão, busca-se apontar as escorregadelas dos títulos, que, mesmo bem intencionados, apresentam um viés preconceituoso – (re)velando preconceitos, seja nas ilustrações, seja na caracterização das personagens; bem como em títulos que alcançam a alteridade - desvelando preconceitos, tanto no que diz respeito as relações de gênero como no que se refere as relações étnico-raciais.
  • Luciana Borges (UFG - Catalão)
    Os vazios transbordantes da memória: relações patriarcais e de gênero no conto “Memória do ontem que não sei”, de Luci Collin
    O presente trabalho tem como objetivo fazer considerações sobre relações de poder e construções de gênero a partir da leitura do conto “Memória do ontem que não sei”, de Luci Collin (2008). Considerando a memória da protagonista sobre os fatos que envolvem a maternidade negada, o conto oscila entre a lembrança e o esquecimento em meio às imposições do poder patriarcal sobre o passado e o presente da personagem. Na cartografia tortuosa da lembrança, a menina e a mulher habitam uma esfera de esfacelamento da subjetividade e exílio das relações familiares, os quais se deram em nome da lei e da ordem patriarcais. Com a desconstrução formal e de linguagem presentes no conto, a ficção de Luci Collin espelha um universo marcado pelas exigências da patriarcalidade em relação ao feminino, focalizando o silenciamento e a repressão das ações femininas transgressoras, em nome de uma cultura de expectativas de gênero (SHAPIRO, 1981), na qual a maternidade pode ser item de valorização ou derrogação feminina, conforme se adeque ou não aos padrões vigentes.
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  • Rosa Maria Blanca Cedillo (UFSC), Miriam Pillar Grossi (UFSC)
    Linguagem como tecnologia, ou "como a escrita produz corpos"
    Pretendemos fazer uso das teorias queer para analisar textos de autoras como Beatriz Preciado, Itziar Ziga e Diana Pornoterrorista. Trata-se de uma escritora, uma artista e uma filósofa. O que têm em comum é que a través de diferentes espaços como revistas, livros ou Internet, desenvolvem uma escrita a partir da sua intimidade ou da sua experiência no campo dos afetos, para desbordar em conceitualizações ensaísticas. Sempre na primeira pessoa do singular, as autoras produzem outros corpos, outra relação entre corpo e prazer, corpo e pós-pornografia, corpo e tecnologia, provocando uma tensão constante em relação ao paradigma dicotômico homosexual/heterosexual.
    Empregamos as teorias queer, porque estamos estudando que, no contexto atual, a produção das identidades não é apenas natural, e tampouco não é apenas o resultado de uma construção social. A incorporação da tecnologia em um régime farmacopornográfico, como explicita Beatriz Preciado, no seu já clássico Testo Yonqui (Espasa 2008), nos obriga a pensar que os nossos corpos têm a potência de se reinventar infinitamente muito além das sobrecodificações impostas pelo sistema heteronormativo.

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  • Paulo César Souza García (UNEB)
    Prezados senhores. Realocações de si em escritas da paixão
    Relatos de diferentes territórios da intimidade rendem escritas que exercitam o poder falar de si, os ditos e os interditos de histórias de amor e amizades. Nos discursos das cartas, autores da literatura brasileira expõem seus espectros, imagens que refletem a existência de estranhos hóspedes, como saber lidar com as paixões, os medos, fobias e inquietações (homo)eróticas, a exemplo do que ocorre com os relatos das missivas de Mário de Andrade. No décor narrativo da expressão livre da diversidade (homo)sexual, outros eus atravessam fronteiras, como os expostos arroubos homoafetivos próprios da linguagem de Caio F. Entre as existências anônimas e as declaradas, trato de focar a leitura nas cartas girada em torno das experiências subjetivas com a (homo)sexualidade condensadas em cenas vividas, no imitar e no inventar a si diante do real e do imaginário. Diante desses constructos discursivos, o contexto das correspondências de Andrade e Caio F espelha suas representações literárias. Minha análise se propõe investigar os deslocamentos, os trânsitos individuais através dos alcances com o gesto do amar, de episódios significativos com experiências amorosas com o outro, suas falas, histórias, memórias, lugares possíveis para interpretar o texto da vida e da ficção.
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26/08 - Quinta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Henrique Sergio Silva Corrêa (UNESP-Assis)
    A construção da mulher sob a ótica de Lima Barreto na revista A.B.C.
    As questões ligadas à mulher podem, seguramente, ser colocadas na pauta dos assuntos que o cronista Lima Barreto debateu. São vários os textos em que o escritor abordou o movimento feminista e o uxoricídio, assim como tratou do futebol, da “nobreza” doutoral e das academias. O feminismo daquele momento, segundo Barreto, era elitista, burguês e composto quase que exclusivamente por mulheres brancas, além de se dividir entre agremiações e grupos rivais. Indo além deste feminismo, Afonso Henriques de Lima Barreto escreveu sobre a operária, a funcionária pública e as normalistas, e também tratou do divórcio, considerado tabu pela sociedade de sua época. O presente trabalho tem a intenção de analisar como o escritor e jornalista Lima Barreto, apontado por muitos como antifeminista, abordou essa temática e retratou a mulher em seus escritos para a revista A.B.C., na qual colaborou de 1916 a 1922. São artigos, crônicas e contos que têm como assunto a mulher de seu tempo, e nos quais o autor de Clara dos Anjos diferencia o movimento feminista coevo da luta pela emancipação da mulher. Este trabalho dialoga com outros textos que pretendem reavaliar a posição de Lima Barreto diante das mulheres, tema que vem sendo discutido com maior ênfase nos últimos anos.
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  • Bianca Cristina Buse (UFSC)
    O 'velho' discurso de sempre: questões de dominação e poder na escrita contemporânea
    O presente trabalho tem como objetivo analisar algumas crônicas da escritora Martha Medeiros com o intuito de averiguar a questão do gênero na escrita contemporânea. O foco deste estudo converge para a discussão a respeito da presença dos estereótipos “criados” pela modernidade e a questão de dominação e poder que, mesmo de forma indireta ou até sutil, pode ser observada em alguns textos dessa autora. Dentro dessa perspectiva, propõe-se a análise de uma breve seleção de crônicas (retiradas dos livros “Doidas e santas” e “Coisas da vida” - ambos publicados pela editora L&PM, em 2008 e 2009, respectivamente) visando à investigação do papel do gênero nesses textos que retratam o cotidiano moderno.
  • Gilles Jean Abes (UFSC)
    Charles Baudelaire e sua visão da mulher do século XIX: tradução comentada de uma carta endereçada a Judith Gautier
    Em uma carta de 9 de abril de 1844 endereçada a Judith Gautier, filha do renomado escritor francês Théophile Gautier, Charles Baudelaire revela sua visão da mulher do século XIX. Trata-se de uma epístola que o poeta envia para agradecê-la pelo seu artigo a respeito da tradução do “Eureka”, de Edgar Allan Poe. Judith Gautier, que se tornará uma célebre escritora consagrada pela Academia Goncourt em 1910, revelou-se mais competente na análise feita em seu primeiro artigo que muitos letrados maduros, apesar de ser uma moça, conforme comenta o poeta. A sensação de surpresa, tão cara à estética baudelairiana, provoca espanto e prazer no autor, pois questiona sua concepção do gênero feminino. Sente-se obrigado a admitir e comentar seu preconceito. O interesse dessa carta reside não somente no retrato da condição da mulher no século XIX, como na possível interrogação que dela subjaz : Como um intelectual, um poeta cuja a inteligência e a sensibilidade artística foram louvadas por Proust e Gide, pôde repetir tal discurso sem questioná-lo totalmente? Sua visão dupla do ser feminino, simultaneamente símbolo de pecado e beleza, influenciou essa concepção. Todavia, há de se questionar sobre a força latente de qualquer discurso fundador, até mesmo na mente de um intelectual marginalizado.
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  • Fabiana Cardoso Fidelis (UFSC / IFRS- Bento Gonçalves)
    Delicadezas: Roland Barthes e Caio Fernando Abreu – cenas de leitura, ensino e escritura
    Examinada por Roland Barthes no curso “O Neutro” (1977/1978), uma das cintilações da figura Delicadeza é a “minúcia”, que beira o detalhe inútil e, por consequência, o suplemento, matéria essencial de que é feita a Literatura. No princípio da Delicadeza aparece a impossibilidade de redução do texto ao seu conteúdo ou à sua forma – prática historicamente adotada no ensino escolar de Literatura, já que a fala do professor tende fortemente a resumir. As cintilações da figura Delicadeza surgem nesta comunicação em um discurso “anedótico”, tecido de relatos sobre leituras de Roland Barthes e Caio Fernando Abreu, nos quais pontuo o caminho realizado na leitura de textos de ambos. Ressalto o contato desta leitura com relatos de cenas como professora de Língua Portuguesa e Literatura, que expressam singularidades próximas às performadas por Roland Barthes em Fragmentos de um discurso amoroso. As passagens de Caio e Barthes em torno do eixo de uma escrita intransitiva ou delicada agem como uma linha que borda uma leitura. Mostro que o avesso do bordado, aparentemente caótico e quase sempre escondido, também tem o seu valor e princípio de regularidade.
  • Ana Maria Alves de Souza (UFSC)
    Do pessoal ao político: o movimento revolucionário de Frida Kahlo na carta ao presidente do México
    Este ensaio procura versar sobre as Cartas Apaixonadas de Frida Kahlo, organização de Martha Zamorra, ressaltando a carta enviada pela artista ao presidente do México, Miguel Alemán, em 1948. Posicionando-se, nesta carta, contra o ataque de jovens católicos ao mural de Diego Rivera onde se via a figura de um necromante dizendo: “Deus não existe”, a artista problematiza seu papel de esposa, emergindo como cidadã da nascente democracia mexicana, fazendo um apelo à liberdade do movimento revolucionário. Ao fazer, nesta carta, conforme Lejeune (2008), um pacto autobiográfico, nessa “escrita de si” (FOUCUALT,2006), a artista aproxima-se de uma nascente vertente filosófica nietzschiniana no questionamento do estatuto do Deus cristão num regime democrático que deveria abarcar todas as formas simbólicas, questão essa que faz eco até a contemporaneidade num mundo marcado por fundamentalismos religiosos. Frida Kahlo assinala então a participação ativista de vanguarda da mulher artista num México pós-revolucionário ainda com fortes tendências patriarcais e machistas, perfazendo o movimento de um caminho que vai do pessoal ao político.
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  • Gleiton Lentz (UFSC)
    Sob o signo da modernidade: o herói moderno nas figuras do dândi parisino, do chulo madrilenho e do compadrito portenho
    Pensar a figura do herói moderno é pensar em Baudelaire. No ensaio “Heroísmo da vida moderna” o poeta delineou a figura desse personagem a quem chamou de herói em tempos modernos. Para encontrá-lo, era preciso tomar as ruas, pois o cenário de sua atuação era o ambiente urbano, e sua única época possível, a belle époque. Sob o signo da Modernidade, o herói baudelaireano, para viver, precisava assumir um estado de vigilância contínuo em busca de uma construção heróica que transformasse as paixões e o poder de decisão. Esse processo exigia a transformação da própria existência em obra de arte, elaborada no cotidiano por meio de uma disciplina extremamente rígida. Mas onde encontrar exemplos modernos desses heróis que habitaram as ruas? Quais figuras representariam o arquétipo do herói na concepção de Baudelaire? E quais metrópoles possibilitaram o surgimento desses personagens? Uma possível resposta reside em três personificações emblemáticas do herói em tempos modernos: o dândi parisino, o compadrito portenho e o chulo madrilenho. Encontrar a insígnia desses heróis “em meio à multidão” é o objetivo desta leitura, na tentativa de analisar o código de valores e os costumes que existem por trás de suas indumentárias e elucidar em que pontos se revestem dos mesmos ideais e virtudes.
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  • Cristiane Roveda Gonçalves (UFSC)
    O mito de Salomé na obra de Jules Laforgue
    O presente trabalho trata da análise do mito bíblico de Salomé como elemento integrante da chamada literatura decadente, o Simbolismo. Analisamos o conto Salomé, de Jules Laforgue, de seu livro Moralidades Lendárias. Num primeiro momento nos preocupamos em apresentar Laforgue e o momento histórico/literário conhecido como Fin du siécle, que compreende a transição do século XIX para o século XX. Em seguida, abordamos o mito feminino de Salomé em relação ao enigma que este representa. Por fim procuramos estabelecer relação entre a figura enigmática de Salomé, que não por acaso, surge como alegoria do decadentismo, característica presente na época em questão, percebendo as características semelhantes à Salomé e ao simbolismo.
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