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06. As correspondências femininas: das escrituras ordinárias às escritas profissionais

Coordenador@s: Maria de Fátima Fontes Piazza (UFSC), Maria Teresa Santos Cunha (UDESC)
Nas últimas décadas, os estudos acadêmicos tem se debruçado sobre os epistolários de escritoras, como o de George Sand, pseudônimo de Amandine-Aurore-Lucile Dupin (1804-1876) em que mostram as epístolas como uma via de acesso à literatura ou como parte do fazer literário (DIAZ, 2002). No Brasil, as publicações tem privilegiado essa prática cultural exercida por homens e mulheres, como a "escrita de si", os "refúgios do eu" ou o "destino das letras", destacando o uso das correspondências como o autobiográfico ou o memorialístico. Também, as correspondências são vistas como fragmentos da memória ou como guia das lembranças, especialmente das mulheres.
O simpósio temático pretende ser um fórum para a discussão das correspondências femininas, dos epistolários, do gênero epistolar, das práticas de escrita, das escrituras ordinárias, das escrituras do presente produzidas no cotidiano à memória do passado colocada no papel (diários, relatos memorialísticos e diários), entre outras discussões pertinentes à epistolografia e às relações de gênero;

Local: Sala Henrique Fontes da Biblioteca Central

Resumos


24/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Marcilene Pereira Barbosa (UEPB)
    A escrita de si de Anayde Beiriz: táticas de resistência, contornos de liberdade
    A comunicação tem como objetivo analisar como a prática íntima e secreta da escrita pessoal pode ser pontuada por táticas de resistência ao estabelecido, constituindo muitas linhas de fuga que possibilitam aos sujeitos experimentar lugares muitas vezes díspares, delineando para si outros corpos e afetos. Nesse exercício recorro ao discurso da escritora e poetisa Anayde Beiriz (1905-1930), através das cartas trocadas entre ela e seu namorado Heriberto Paiva, de 1924 a 1926. Considero as escritas dos enamorados ricas em códigos de comportamento da sociedade, os quais citam os indivíduos num caráter binário e demarca os territórios que ambos devem ocupar. Nessa correspondência, marcada por táticas de captura dos sujeitos, fica perceptível às rupturas em relação às regras de normatização a essa divisão entre feminino e masculino, todavia essa dinâmica é articulada em um campo de avanços e recuos, nos quais podemos pontuar esses papéis e ao mesmo tempo observar as multiplicidades dessas identidades. Para esse exercício, recorro ao território da história cultural, utilizando as contribuições de Michel Foucault, Judith Butler, Ângela de Castro Gomes, Tânia Navarro, Muriel Dimen, Arleen B. Dallery, entre outro (a)s.
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  • Jacicarla Souza da Silva (UNESP)
    "Esta América Nuestra" (2007): o diálogo epistolar entre Gabriela Mistral e Victoria Ocampo
    Nomes como o de Gabriela Mistral, ganhadora do primeiro Prêmio Nobel de literatura latino-americana, e o de Victoria Ocampo, fundadora da revista "Sur", um dos periódicos mais influentes do cenário latino-americano no século XX, demonstram, juntamente com outras grandes personalidades femininas, a importância do papel exercido pelas mulheres no espaço intelectual da América Latina no século XX. As duas autoras irão nutrir uma amizade que perdurará por mais de 30 anos. Devido ao grande número de viagens realizadas por ambas e também às próprias condições de comunicação daquele período, não é de se estranhar que o contato entre elas será estabelecido de maneira intensa por meio de cartas. Esse forte laço mantido entre as escritoras pode ser observado na publicação "Esta América nuestra" (2007), organizada por Elizabeth Horan e Doris Meyer, que reúne correspondências trocadas entre Ocampo e Mistral durante o período de 1926 e 1956. Desta forma, esta comunicação visa a destacar o diálogo epistolar entre essas duas grandes figuras femininas, com o intuito de mostrar a importância dessas correspondências para uma compreensão mais ampla de suas obras. Pretende-se ainda ressaltar a influência exercida por Gabriela e Victoria no que tange à concepção de integração cultural na América Latina.
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  • Alômia Abrantes da Silva (UEPB)
    Entre cartas e declarações de amor: a escrita de si de Anayde Beiriz
    A recente publicação da correspondência da professora Anayde Beiriz (1905-1930) deu visibilidade a uma escrita comentada pela historiografia na Paraíba, mas pouco conhecida, possibilitando aproximações da personalidade da jovem que teve sua vida entrelaçada aos acontecimentos da “Revolução de 1930”. Distanciando-se das tentativas de estabelecer através desse material uma identidade para Anayde, aproveita-se aqui o fato do conjunto epistolar formar um diário amoroso, sua correspondência com o namorado Heriberto Paiva entre 1924 e 1926, para problematizar as tessituras de imagens dos gêneros, notadamente do feminino, num território marcado por códigos de intimidade e desejo. Articula-se a dinâmica do diálogo entre os namorados para melhor analisar a escrita dela enquanto escrita de si, delineada num campo de sedução e táticas de captura, que agencia e cria representações de gênero e de sensibilidades daquele contexto histórico. Procura-se refletir sobre a leitura epistolar no campo da história, ao tempo em que pensa as fronteiras de gênero, notadamente do feminino, culturalmente demarcadas por dispositivos reguladores da sexualidade e dos afetos. Para tal, apóia-se em referências relacionadas à história cultural.
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  • Greyce Kely Piovesan (UFSC)
    As mulheres de letras no universo epistolar de Pedro Nava
    Pedro Nava (1903-1984) foi um grande memorialista brasileiro. Nascido em Mina Gerais, foi colega e amigo de muitos dos intelectuais mineiros que agitaram o cenário cultural e político dos anos 20 do século passado. Apesar de seguir a carreira médica, sua trajetória foi marcada por intervenções culturais e literárias. Entre os documentos doados pela família após a morte do médico-memorialista estão cartas enviadas por remetentes de peso na literatura nacional. Porém há um certo silêncio das vozes femininas entre seus interlocutores epistolares. O círculo intelectual que Pedro Nava freqüentou era composto grande parte pelo universo masculino. Apesar deste silêncio algumas mulheres manifestaram-se em missivas repletas de boas histórias e “boas letras”. Mulheres como Lygia Fagundes Telles, Rachel Jardim, Rachel de Queiróz e Maria Julieta Drummond se corresponderam com o também escritor. Este trabalho se ocupará destas cartas, buscando compreender este universo feminino letrado através das relações profissionais e de amizade entre o memorialista e suas escritoras-remetentes.
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  • Michelle Vasconcelos Oliveira do Nascimento (UFRN), Maria de Loudes Patrini Charlon (UFRN)
    As máscaras do feminino: o “eu” fragmentado no diário e na epistolografia do último ano de Florbela Espanca
    Práticas de escrituras bastante comuns entre mulheres escritoras e artistas, o diário e o gênero epistolar, considerados inicialmente como escritas marginais - como o exemplo do Diário de Maria Bashkirtseff (1854-1884) e suas cartas -, foram tomados pelas mulheres, em especial, como experiência de linguagem, caracterizados pela liberdade, pelo caráter mais subjetivo, confessional e íntimo, e de auto-conhecimento, ao invés de serem simples relatos cotidianos da realidade vivida. São gêneros em que o realismo abriu espaço para a subjetividade e a arte, mesclando-se e construindo realidades individuais dos sujeitos que expressavam suas angústias particulares que insurgiam, muitas vezes, contra sua condição feminina na sociedade.
    Esta comunicação tem a proposta de analisar como Florbela Espanca, no seu diário e epistolografia do último ano de vida, construiu as suas múltiplas máscaras femininas, todas fragmentos do seu “eu”. São representações femininas que vivem entre o equilíbrio e o desequilíbrio, vida e morte, Eros e Tânatos, um EU vário que anseia em descobrir-se, em expressar-se sem mordaças morais e sociais, em seu desmedido panteísmo, e que acaba por exilar-se em si na tentativa evasão da realidade.

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  • Laura Bermúdez (Facultad de Humanidades, UDELAR, Uruguay)
    Escribir para enfrentar la ausencia
    Hacer historia es hacer memoria.
    La inclusión de las mujeres en la narración histórica implica necesariamente la redefinición y ampliación de nociones tradicionales del significado histórico, de modo que abarque la experiencia personal y subjetiva, así como las actividades públicas y privadas. Una metodología como ésta implica no sólo una nueva historia de las mujeres, sino también una nueva historia.
    A través del análisis de cartas enviadas a su familia por una presa política uruguaya, desde su lugar de cautiverio, durante el terrorismo de estado, trataremos de dilucidar el por qué de los temas por ella evocados en su escritura, así como la forma en que los expresa. En este estudio intentaremos rescatar las líneas de fuga que utiliza esta mujer para escapar -en parte- a esa sociedad de control en la que se hallaba inmersa, así como comprobar si esa escritura continúa vigente a pesar del paso del tiempo y si produce efectos más allá de la presencia de quien la elaboró, incluso más allá de su propia vida (Derrida J,1972).
    En esta interpretación nos aproximaremos a lo dicho y lo no dicho en esos trozos de papel.
    Deseamos compartir esta experiencia y de esa forma no privatizar el conocimiento, ya que el pensamiento es una propiedad colectiva.

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  • Leticia de Souza Gonçalves (UNESP - Assis)
    A vida alegórica de Katherine Mansfield em “Prelude”
    A obra de Katherine Mansfield (1888 – 1925) é a expressão da inovação no que se refere, não somente à literatura produzida por mulheres, como também à produção literária de sua época. Tendo seu ápice literário nas décadas iniciais do século XX, a escritora neozelandesa mantinha um estilo peculiar, proporcionando a originalidade narrativa e a renovação do conto. Sua vida pessoal conturbada devido a problemas de saúde e perdas familiares refletia-se indiretamente nos cenários utilizados nas narrativas e na maneira de retratar comportamentos humanos por meio de suas personagens. Em vista disso, este trabalho tem como objeto de estudo os escritos pessoais da autora e a relação com a sua produção artística, especificamente o conto “Prelude”, no qual há indícios da reiteração memorialística de sua infância em Nova Zelândia. O desinteresse pela vida e, consequentemente, pelas pessoas que a cercam tornou-se tema das suas produções literárias, tanto na ficção, quanto nas cartas com tom autobiográfico. Assim, apresentamos Katherine Mansfield como mulher e escritora, cujas criações representam a sua “dívida sagrada” com seu país e sua infância.

25/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Maria de Fátima Fontes Piazza (UFSC)
    Cartas do Rio: o gênero epistolar na esfera pública
    A comunicação tem como objetivo discutir o gênero epistolar na esfera pública, tendo como modelo as "Cartas do Rio" escritas por Luiza Barreto Leite (1909-1996) e publicadas na revista de variedades "Vamos Lêr!". Esse tipo de epístola segue uma tendência que existia desde o início do século XIX, prática incorporada pelos correspondentes estrangeiros em Paris, quando vários escritores, como Stendhal, Ezra Pound, Paul Morand e Janet Flanner escreviam as Lettres Parisiennes ou Letters from Paris, em periódicos de prestígio como The Dial de Chicago, The New Yorker, Paris Monthly Review, entre outros.
    Luiza Barreto Leite que foi fundadora do grupo de teatro "Os Comediantes", crítica de teatro e atriz de filmes da Cinédia, Atlântida e Brasil Vita Filmes. Essa personalidade múltipla, ainda escreveu a versão brasileira, sob o título "Cartas do Rio", por um curto período, essa crônica sob a forma epistolar, que abordava assuntos diversos, desde teatro até a viagem de Portinari aos Estados Unidos em 1940 ou sobre a Senhora Roosevelt como símbolo da mulher moderna, entre outros assuntos. Aqui, o fulcro da discussão versará sobre a apropriação e a transformação que a epístola sofreu ao longo do tempo, o que remeterá ao estatuto da carta: pública ou privada?
  • Lerice de Castro Garzoni (Unicamp)
    As cartas de Santuzza: uma análise da seção "Petits Bleus" do jornal A Imprensa (Rio de Janeiro, 1900)
    Entre fevereiro e abril de 1900, o jornal A Imprensa, cujo diretor-chefe era o advogado Rui Barbosa, publicou uma seção intitulada “Petits Blues”. Escrita em francês, ela foi inicialmente composta pelas cartas que Santuzza destinava à “Mme. X” ou à “Mlle. Z”. O objetivo dessa colaboradora, provavelmente ficcional, era responder as dúvidas e distribuir conselhos às leitoras. Posteriormente, crônicas assinadas por Suzette passam a compor o conteúdo da série. A partir da análise dessa coluna e de sua inserção no jornal, pretendo refletir sobre os sentidos de seu caráter epistolar, a questão da presença feminina nas folhas cotidianas e os limites entre público e privado.
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  • Daniela Queiroz Campos (UFSC)
    A ousadia comportada: uma questão de gênero na coluna Garotas da revista O Cruzeiro (1950-1964)
    O presente trabalho pretende tecer considerações sobre a coluna Garotas da revista O Cruzeiro no período compreendido entre 1950 e 1964. Pretende, em especial, tecer suas tramas narrativas sob a questão da civilidade e da imagem e do gênero na coluna estudada. A coluna, assinada pelo ilustrador e figurinista mineiro Alceu de Paula Pena, circulou em uma das revistas brasileiras mais emblemáticas de meados do século XX. Foram 2 páginas que ocuparam a revista semanal de Assis Chateaubriand por initerruptos 28 anos, de 1938 até 1964. O presente estudo se propõe analisar como através da arte gráfica da coluna Garotas se viabiliza a circulação de normas e preceitos de civilidade para jovens mulheres consideradas urbanas, modernas e ousadas no Brasil das décadas de 1950 e 1960.
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  • Darlan Jevaer Schmitt (UDESC)
    “Aconteceu...”: Christina Deeke Barreto e a escrita feminina na revista Blumenau em Cadernos - Blumenau / SC (1958-1962)
    A historiografia do Vale do Itajaí/SC e do município de Blumenau/SC é destacada por um periódico, a Revista Blumenau em Cadernos. Publicação idealizada pelo pesquisador e intelectual José Ferreira da Silva. Reconhecido como um historiador autodidata da região do Vale do Itajaí/SC, Ferreira da Silva dirigiu a revista desde sua fundação em 1957, até sua morte, em dezembro de 1973. Nesse material impresso, o editor/autor construiu uma narrativa histórica para a cidade de Blumenau e região do Vale do Rio Itajaí, dando destaque a determinados personagens, lugares, fatos escolhidos para fundamentar e prestigiar, em alguns casos, determinadas situações políticas, sociais e culturais da Região. Como parte desta estratégia, a seção “Aconteceu...”, escrita por Christina Deeke Barreto entre 1959 e 1962, aproximava Blumenau em Cadernos do gênero feminino. “Aconteceu...”, era uma seção que apontava os principais eventos sociais da região, e apresentava segundo Ferreira da Silva, entretenimento às poucas leitoras de Blumenau em Cadernos. A relação entre Deeke Barreto e Ferreira da Silva através das práticas de escrita de Blumenau em Cadernos apresenta uma possibilidade para uma discussão de gênero nos impressos catarinenses, nas décadas de 1950 e 1960.
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  • Ana Carla Dias Carvalho (UFG)
    A educação do corpo produzida pela revista Boa Forma
    A presente pesquisa abordou a educação do corpo produzida por meio de um produto da indústria cultural: a Revista Boa Forma. A revista assume um discurso que conta com a notoriedade das celebridades acerca dos usos do corpo que se tornam referências a serem seguidas. Os corpos das garotas da capa traduzem uma mensagem de que a “boa forma” é garantia de sucesso. As leitoras, além de consumirem o ideário de corpo da revista, consomem também o conjunto de produtos veiculados na revista que estão ligados ao constructo de corpo montado pelas “garotas da capa”. Na civilização, o programa de esclarecimento do homem que previu o “desencantamento do mundo”, objetivou “livrar” os homens do medo, o sujeito contemporâneo, para se constituir, parece precisar se livrar do medo da má forma. Neste sentido, a revista sugere uma prescrição mensal de combate à gordura e a má forma. O herói épico de outrora, “o protótipo do indivíduo burguês”, traduzida no eminente Ulisses, reverbera atualmente na representação “alegórica” do sujeito consumidor da Revista Boa Forma, que apresenta o caminho para o gozo permitido ao indivíduo contemporâneo. Afinal, por mais que a ciência e a tecnologia invadam a vida, ela ainda encontra-se embreada nos mitos, como Horkheimer e Adorno anteviram.
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  • Fernando Vojniak (UFSC)
    Cartas à Cora: gêneros epistolares e outros gêneros na educação dos meninos e das meninas no século XIX
    Após a Independência, a “escola do ler, escrever e contar” foi reinventada num regime laicizante que teve fortes implicações nas culturas orais e escritas com a separação entre a instrução moral-religiosa e a instrução de leitura, escrita e dos elementos básicos de aritmética. O Brasil Império foi, portanto, palco do surgimento de um discurso cada vez mais laico no interior dos livros escolares e nos próprios livros de instrução moral. Estes passaram a incorporar em seu repertório narrativo um número cada vez maior de textos profanos e liberais em torno de uma ideologia moral laica, a partir da qual, além da formação do cristão e da salvação das almas, tornou-se necessária a formação do bom cidadão. Essas transformações constituíram-se terreno fértil para a germinação dos manuais de civilidade a exemplo das "Cartas sobre a educação de Cora" do Conselheiro José Lino Coutinho (1784-1836). Publicado postumamente por João Gualberto de Passos em 1849 “no generoso intuito de melhorar a educação das meninas brasileiras”, este manual tem por função, nesta comunicação, servir de porta de entrada no universo dos livros escolares e manuais de civilidade do século XIX como alternativa de reflexão sobre as transformações por que passaram a leitura, a escrita e a instrução moral-civilizatória.
  • Bruno Henrique Nichel (UDESC)
    Amável, prezadíssimo, inesquecível: o imaginário acerca do locutor de rádio nas correspondências femininas
    Como afirma Dauphin (2002), ler uma carta é entrar numa história sem conhecer a primeira palavra. Desse modo, ao analisarmos o conjunto de correspondências femininas enviadas ao produtor e locutor Aldo Silva, pretende-se investigar como ocorria a identificação do público feminino para com determinados personagens e programas, com quem estabeleciam uma relação afetiva especial. Os programas radiofônicos eram construídos de forma a sensibilizar o ouvinte, adentrando em seu cotidiano, despertando sentimentos e manifestações por parte desses. Esse envolvimento pode ser observado a partir das escritas ordinárias das ouvintes, que evidenciam práticas e idealizam uma representação imaginária em torno da figura do locutor. Misto de admiração com devaneio, do real com a ficção, essa representação contribui para criar laços entre ouvintes e o meio radiofônico, onde as missivistas não apenas ouvem o artista, mas também interagem e participam do universo carregado de signos que é o rádio.
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26/08 - Quinta-feira - Tarde (14h às 18h)
  • Maria de Lourdes Patrini Charlon (UFRN)
    A literatura do"eu" : gênero e subjetividade
    O diário íntimo contribui a “l’invention du moi”, segundo a expressão de René Hocke, historiador dos diários íntimos. A introspecção está no coração da maioria dos diários de mulheres escritoras, tais como: Simone de Beauvoir, Colette, Anais Nin, Virginia Wolf, entre outras. A busca de si não é somente um sujeito das mulheres de letras. Philippe Lejeune estudou os diários de adolescentes em Le moi des demoiselles. Trata-se de uma prática de massa, por isto banal, mas ao mesmo tempo misteriosa e que, contrariando a todo preconceito, vem despertando o interesse dos estudiosos. Assim, entre a auto-análise e a narração, meu intresse é o de discutir e o de distinguir as diversas formas de utilização das narrativas de vida, fontes de informação, de testemunha e de construção identitária feminina.
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  • Natania Aparecida da Silva Nogueira (Rede Municipal de Ensino de Leopoldina)
    Áurea Nardelli: memórias de uma normalista
    A presente comunicação tem como tema e fonte as memórias da professora Áurea Nardelli, que viveu na região da Zona da Mata de MG, nos municípios de Mar de Espanha e Juiz de Fora. Áurea conta em seus dois livros sua trajetória, da infância à idade adulta, dando ênfase especial ao período em que cursou a escola normal. Nascida na década de 1910, Áurea traz em suas memórias uma gama de informações que nos ajudam a melhor compreender os preconceitos e os tabus da sociedade mineira do início do século XX, por meio do olhar feminino.
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  • Tânia Regina da Rocha Unglaub (UDESC)
    Vida de professoras catarinenses guardada em registros de aula
    Esta comunicação visa analisar cadernos que pertenceram a professoras que trabalharam em escolas catarinenses na década de 40. As escrituras ordinárias que marcam as páginas destes cadernos revelam práticas de mulheres que se dedicaram à arte de ensinar num período nacionalista. Elas tiveram interesse em exercer a função de professoras e sentiram o dever de servir à pátria. Portanto, saíram da capital para morar em casas de estranhos para ensinar à cultura nacionalista e promover o amor a pátria aos imigrantes que habitavam em terras catarinenses. Nestes cadernos estão registrados como chegaram ao seu local de trabalho, seu objetivo, bem como cânticos e poesias nacionalistas, atividades festivas e visitas de inspetores. O inspetor, representado pela figura masculina, tinha a incumbência de instruir as “professorinhas” na nobre missão de servir a pátria. Estas práticas representam a cultura nacionalista difundida no período estadonovista e foram analisadas na perspectiva da história cultural na clave das representações no sentido adotado por Roger Chartier.
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  • Lorena Zomer (UFSC)
    "Página Literária": vivências e diálogos da curitibana Leonor Castellano nos artigos publicados em 1924 na Gazeta do Povo
    Esse artigo representa parte de uma pesquisa de dissertação sobre a escritora e intelectual curitibana Leonor Castellano (1924-1969). Tal autora conviveu com várias correntes de pensamento político-literário, como o positivismo, o simbolismo e principalmente a proliferação de centros intelectuais, dos quais é fundadora de alguns ainda existentes como o Centro Feminino Paranaense de Cultura e o Centro de Letras. Castellano escreveu em diversos jornais e revistas e teve seu início de carreira através de dois artigos escritos ao jornal curitibano Gazeta do Povo. Tais textos eram escritos na coluna chamada Pagina Literária, cujos temas eram a condenação da influência do feminismo europeu às mulheres curitibanas e da crescente profissionalização feminina no mercado de trabalho. Em uma análise de sua diversidade literária, percebemos que Castellano demonstrava o quanto apreciava a literatura como forma de exaltação das vozes femininas, e ainda, como uma forma para as intelectuais conquistarem seu lugar na História. Dessa forma, através desses artigos e de sua biografia, encontramos símbolos construídos nos discursos de Castellano e condutas tanto femininas quanto masculinas, e ainda, desvela atos sociais do cotidiano curitibano.
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  • Luciana Bittencourt Tiscoski (UFSC)
    Na negação da morte, um biografema de Hilda Hilst
    A partir do registro numa agenda da escritora Hilda Hilst datado de 1972, proponho uma análise da relação entre este escrito, a relação de H.H. com a leitura e a correspondência passiva de amigas escritoras e artistas de outras áreas. Além da referência nesta agenda ao livro A negação da morte, do escritor e antropólogo cultural Ernest Becker, e a nomeação de ‘irmãos’ aos autores Kafka, Beckett, Kazantzakis, Jung, Hermman Broch e o próprio Ernest Becker, este trabalho discorre sobre a condição das mulheres ligadas aos meios intelectual e artístico do ponto de vista de suas aspirações e anseios relatados nas cartas. Estas cartas são da década de 70 e dentre as correspondentes estão nomes como Lygia Fagundes Telles, Gisela Magalhães, Eloah Giacomelli e Nelly Novaes Coelho. Com estes dados que formam um pano de fundo da condição mulher e artista da própria Hilda Hilst, pretendo esboçar um biografema da autora, considerando aqui o neologismo de Roland Barthes, que a partir de um fragmento da vida ou da criação literária, retira significações e reconstitui um possível traço biográfico. Trata-se de um fragmento “onde se criam e se recriam, o tempo todo, pontes metafóricas entre realidade e ficção”, nas palavras do próprio Barthes.
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  • Aina Pérez Fontdevila (Grupo Cuerpo y Textualidad. UAB)
    Ausentarse del autógrafo: autoría literaria, autorrepresentación y desfiguración en las crónicas lispectorianas
    Entre la escritura pública y la autografía, las crónicas que conforman A descoberta do mundo ofrecen un espacio privilegiado para el análisis de los imperativos de género con los que una autora debe negociar en su autorrepresentación pública. Escritas en un tiempo en que Clarice Lispector gozaba ya de gran popularidad, el discurso público acerca de su figura, plagado de estereotipos de género, constituye un intertexto fundamental que la autora parodia, deslegitima o ratifica, en un intento de recuperar la agencia de su propia representación. Al mismo tiempo, deja constancia de su negociación con los prejuicios que regulan el acceso de las mujeres a la plena legitimación literaria, pudiendo detectarse en ellas diversos intentos de neutralización de los mecanismos mediante los cuales, según Joana Russ, la institución literaria trata de suprimir la escritura de mujeres. Esta comunicación se propone analizar las crónicas desde estas perspectivas, entendiendo siempre que el texto autográfico no constituye el espejo de un yo sino un espacio de generación de identidades, en negociación siempre con modelos públicos tras los que el rostro se desfigura, según terminología demaniana, en la materialización de las máscaras de la escritura.
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