Fazendo Gênero 10 - Desafios atuais dos feminismos
Universidade Federal de Santa Catarina - 16 a 20 de Setembro de 2013
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052. Gênero e Cinema: entre narrativas, políticas e poéticas
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052. Gênero e Cinema: entre narrativas, políticas e poéticas

Coordenadoras/es: Debora Breder Barreto (Pós-doutorando(a) - Universidade Federal de Minas Gerais), Marcos Aurélio da Silva (Pós-doutorando(a) - Universidade Federal de Santa Catarina)
Resumo: O simpósio pretende reunir pesquisadores e pesquisadoras que estudam as questões de gênero a partir de um olhar sobre o cinema, bem como aqueles que investigam a linguagem e a produção cinematográficas, a partir do campo das relações de gênero. Quais os lugares dos gêneros nos discursos cinematográficos? Como as sexualidades são apropriadas e negociadas nas produções cinematográficas? Se o cinema é um espaço de construção, crítica e reprodução, como a feminino e o masculino se posicionam e como são posicionados? Como são projetadas as sexualidades não hegemônicas em produções comerciais e independentes? Os estudos de cinema e a crítica feminista têm se colocado, desde os anos 70, diversas perguntas sobre o lugar da narrativa fílmica na constituição dos olhares sobre os gêneros e, mais recentemente, o discurso fílmico tem sido apropriado como forma de contestação e problematização dos discursos que buscam normatizar e domesticar as sexualidades. Este simpósio reunirá reflexões que tenham como eixo norteador as linguagens cinematográficas comerciais, independentes, alternativas, ficcionais e/ou documentais, como produtoras de significados que não apenas refletem as relações de gênero e sexualidade, mas que também constituem essas relações em processos contemporâneos de subjetivação. Se o cinema porta um discurso sobre as socialidades humanas, performando críticas, questionamentos, dúvidas e afirmando verdades, esse simpósio pretende reunir trabalhos que permitam entender o cinema como um espaço habitável por esses sujeitos que se constituem e são constituídos na linguagem cinematográfica.

Local

Auditório da Reitoria

Debatedores/Sessões

Não foram indicados debatedores.


Programação


16/09 - Segunda-feira
  • Tânia Rosa F. Cascaes (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Guaraci da Silva Lopes Martins (Universidade Estadual do Paraná)
    A linguagem cinematográfica e a normatização da sexualidade: dialogando com "A Pele que Habito" de Pedro Almodóvar
    Esta pesquisa tem como proposta ampliar a reflexão sobre as questões de gênero com enfoque na linguagem cinematográfica entendendo esta linguagem artística como um espaço profícuo para a discussão reflexiva sobre os discursos que permeiam as sociedades humanas, especialmente no que se refere à construção das identidades. Neste sentido, o enfoque desta investigação se concentra na obra A Pele Que Habito de Pedro Almodóvar, cuja temática nos faz refletir sobre novas configurações de gênero. Nesta perspectiva, o corpo deixa de ser uma rota segura para posicionar os sujeitos no mundo polarizado e fragilizado diante de lócus possíveis de interrelações sociais. Ou seja, a convivialidade dos dias atuais nos coloca frente à constatação de que os signos anatômicos, longe de serem fixos e estáveis são atravessados por distintas possibilidades de construção identitária. Sendo assim, este trabalho busca a compreensão das condições sociais que possibilitam o deslizamento ou ressignificação das subjetividades dos corpos. Pautadas no referido filme, as autoras pretendem contribuir para a problematização de “verdades” consideradas inquestionáveis sobre os gêneros e as sexualidades.
    Palavras-chave: Cinema; Identidade; Gênero; Sexualidade.

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  • Érica Quinaglia Silva (Universidade de Brasília)
    Falemos com Almodóvar
    Pedro Almodóvar é um cineasta espanhol cujos filmes são permeados por discussões polêmicas e instigantes que versam, entre outras, sobre sexualidade, desejo e relações de gênero. Fale com ela é um desses filmes que abarca, além dos assuntos antepostos, questões bioéticas que tocam as temáticas da morte e da vida. Neste filme, defrontamo-nos, por um lado, com personagens femininas que entram em coma. Daí, surgem diversas considerações, como o direito de morrer, as significações da morte e da vida e a eutanásia. Por outro lado, desvelamos, com o decorrer da história, a ocorrência de um estupro. Outras questões são, então, apresentadas, também referentes às significações de vida e morte, violência contra a mulher, autonomia reprodutiva feminina e direito ao aborto. Neste ensaio, atentar-nos-emos para a profundidade da filmografia almodovariana com ênfase às duas facetas - morte e vida - que emergem como reflexo da condição humana. Falemos com Almodóvar.
    Palavras-chave: Gênero; Bioética; Morte; Vida.

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  • Paloma Coelho (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)
    Gênero e cinema: reflexões sobre “A vereadora antropófaga”, de Pedro Almodóvar
    Em 2009, prestes a estrear o filme “Abraços Partidos”, Almodóvar lançou um curta-metragem, denominado “A vereadora antropófaga”, como divulgação de sua película. Ironicamente, o curta pouco tinha a ver com a narrativa principal, mas se tratava de uma história independente, que não aparece no filme e foi acrescentada como final estendido na versão em DVD. Nessa breve produção, a personagem principal aparece em uma cozinha e se dirige ao espectador e a uma mulher adormecida sobre a mesa, ao lado de uma jarra de gaspacho, por meio de um monólogo excêntrico e, ao mesmo tempo, cômico, que aborda questões como sexualidade, política, desejo e feminismo. Este artigo pretende discutir esse curta-metragem a partir da perspectiva de gênero, analisando os significados construídos em torno do corpo, da sexualidade, do desejo, das noções de masculinidade e feminilidade elaboradas por esses discursos. A partir da compreensão de que o gênero se constitui por meio de práticas discursivas e reguladoras, de regimes de poder que controlam e significam os corpos, pretende-se analisar a linguagem, os sentidos e os deslocamentos presentes nessa produção a fim de se pensar não só a noção de corpo, mas também de gênero, como construções investidas de sistemas políticos e ideológicos.
    Palavras-chave: Gênero; Cinema; Almodóvar.

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  • Luiz Gustavo Pereira de Souza Correia (Universidade Federal de Sergipe)
    Corpo e emoções, gênero e deficiência: olhares sobre"Tiresia"
    Nesta comunicação discuto Tiresia, filme francês dirigido por Bertrand Bonello, focando as relações de poder em torno do corpo e das emoções. A análise tem como base três eixos: o sentido da visão no imaginário ocidental e as representações sobre a cegueira; a deficiência e o discurso biomédico em torno dos conceitos de normal e patológico; e, por fim, o comportamento desviante, a exclusão social e as noções de corpo e gênero. Tiresia é uma transexual brasileira que se prostitui na França e que sofre um sequestro. Mantida amarrada, é ferida nos olhos e largada pelo seu sequestrador ao perder as características femininas e desenvolver aspectos físicos relacionados a um corpo masculino. Ela(e) é então recolhida e cuidada por uma família da região. Ao ter sua saúde restabelecida, passa a prestar consultas se utilizando da sua vidência recém conquistada e a ser alvo de preces, cultos e procissões. A partir dessa narrativa fílmica, busco analisar o discurso da deficiência como uma retórica histórico-social, como conceito relacionado à autoridade e ao poder instituído do discurso biomédico, e como a imagem da alteridade deficiente vincula-se a representações naturalizadas e reproduzidas sócio-culturalmente sobre corpos “inadequados”, “anômicos”, “disfuncionais” ou “desviantes”.
    Palavras-chave: Corpo; Emoções; Gênero.

  • Rafael Chaves Vasconcelos Barreto (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)
    Performances de Gênero na Ficção: O transexual de Almodóvar
    O presente artigo tem como objetivo articular ficção e realidade no intuito de entender alguns aspectos das relações de gênero. Nesse sentido o longa-metragem “A Pele que Habito”, de Pedro Almodóvar nos trás elementos fundamentais para o entendimento de muitas dessas questões. Desse modo será abordada a questão da transexualidade a partir de elementos trabalhados pelo autor, partindo disso para que seja feito um contraponto entre a transexualidade (imposta) da/do personagem principal e o tratamento dessa questão em nossa sociedade. Esse trabalho é parte de tese de doutorado em andamento que aborda performances de gênero e homossexualidade a partir da análise da memória coletiva de grupos homoafetivos. Sendo assim, será realizada uma análise da relação sexo/gênero/corpo bem como suas possíveis articulações, nos ajudando a entender parte da construção e visão que o feminino possui em nossa sociedade.
    Palavras-chave: Gênero; Transexualidade; Cinema.

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  • Marcelo Faria Dos Anjos (Universidade Federal de Juiz de Fora)
    Gênero e cinema: da produção de subjetividades e performatividades à política e poética das imagens no documentário “Kátia”
    A proposta é problematizar o encontro e a relação entre gênero e cinema, a partir de um olhar sobre o filme “Kátia”(2012). Dirigido pela cineasta Karla Holanda, o documentário acompanha a personagem Katia Tapety, primeira transexual eleita para um cargo político no Brasil. Tendo como base os Estudos Culturais, as perspectivas pós-estruturalistas, os Estudos de Cultura Visual, e particularmente, a construção dos Gêneros, das Sexualidades, das Diferenças e das Subjetividades nos últimos anos, o artigo toma as narrativas das trajetórias e das experiências vividas pela protagonista e reflete sobre possíveis enunciados performativos que indicam um lugar para a transexualidade e um modo de ser transexual (brasileira), além de revelar a potência da relação documentarista e personagem. Pensando no aspecto político e no aspecto poético das imagens cinematográficas em diálogo com Gênero e Sexualidade, questiona-se que tramas de possibilidades e de visibilidades, e que produções de sentidos e de verdades podem emergir da relação que se dá entre o nosso olhar e aquilo que olhamos – neste caso, o cinema – que também nos olha.
    Palavras-chave: Gênero; Cinema; Narrativa; Performatividade; Subjetividade.

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  • Alessandro Garcia Paulino (Universidade Federal de Lavras), Alex Ribeiro Nunes (Universidade Federal De Lavras), Marina Aparecida Marques Castanheira (Universidade Federal de Lavras)
    Gênero e cinema nas lentes de"Tomboy"
    Na pós-modernidade estamos imersos/as em uma avalanche de informações que são veiculadas através dos textos culturais que incluem as pinturas, o cinema, os programas televisivos, as charges, enfim, as produções culturais inventivas, que são carregadas de saberes e significados e que entram em nossas vidas das mais diferentes maneiras nos subjetivando. Portanto, esse trabalho surgiu a partir da análise do longa-metragem francês “Tomboy” (Tomboy, 2011) da diretora Céline Sciamma. A película busca explorar aspectos como as relações de gênero, as infâncias, as masculinidades, os sujeitos cis e os transfeminismos através das cenas que entrelaçam a história de Michael/Laurie e os outros sujeitos que compõe a trama. Através das problematizações deste texto cultural, lançamos mão de pensar as diversas possibilidades de produção de conhecimentos que podem advir da película. Por fim, observou-se que a utilização dos textos culturais como potencializadores de enunciados performativos voltados para a reiteração, desconstrução e para o questionamento das identidades e das diferenças proporcionou através das lentes cinematográficas novas possibilidades de pensar os sujeitos presentes nos contextos sociais.
    Palavras-chave: Infâncias; Pós-modernidade; Gênero; Textos culturais.

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17/09 - Terça-feira
  • Tatiana Brandão de Araujo (Universidade Federal de Santa Catarina)
    Cinema Queer: o que é isso, companheir@s?
    Neste trabalho será analisado o documentário Fabulous! The Story of Queer Cinema de 2006, dirigido por Lisa Ades e Leslie Klainberg. O filme pretende fazer uma cronologia de produções feitas por/para/sobre gays e lésbicas, principalmente nos EUA a partir da década de 1940. Um dos principais temas que ele aborda enquanto traça sua cronologia é a questão da visibilidade, e de que como gays e lésbicas ficaram ausentes enquanto sujeitos por muito tempo das representações cinematográficas. Nesse sentindo, além da temática da visibilidade, o filme discute representação, voz, auto-expressão, e a importância da identificação com o que se vê na tela. Os filmes citados no documentário rompem de alguma forma com os padrões normativos de feminilidades e masculinidades, mas em que sentido o termo queer é pensado quando se referem a estas produções? Segundo Annamarie Jagose (1996) e Jack Halberstam (2005), o queer não pode ser considerado sinônimo de homossexualidade, significando assim, que nem todos gays e nem todas as lésbicas poderiam ser considerados queer. E sendo o queer uma crítica a política de identidades, seria este um termo coerente para demarcar e identificar certos filmes?
    Palavras-chave: Visibilidade; Queer; Cinema.

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  • Marcos Aurélio da Silva (Universidade Federal de Santa Catarina)
    Festivais, cinema e políticas de representação: das movimentações LGBT às políticas de vida no contemporâneo
    O trabalho é um desdobramento de minha pesquisa de doutorado, finalizada recentemente, em que investiguei um festival de cinema da diversidade sexual, o Mix Brasil, realizado em São Paulo desde 1993. A ideia agora é ampliar o foco de análise para outros festivais do mesmo tipo, no Brasil, e pensar em que medida os festivais de cinema tornam-se dispositivos contemporâneos de produção de subjetividades, diretamente ligados aos campos de poder/saber que circunscrevem gênero e sexualidade, ao mesmo tempo em que são desdobramentos das políticas de representação contemporâneas, mais precisamente as que se conectam às movimentações LGBT das últimas décadas.
    Palavras-chave: Cinema; Políticas públicas; Festivais; Sexualidade.

  • Marcia Casturino (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)
    Transgressão no cinema japonês: o corpo violado como manifesto
    Este trabalho analisa parte da produção cinematográfica japonesa produzida do final da década de 1950 ao início de 1970, de cineastas como Oshima Nagisa, Yoshishige Yoshida, Susumu Hani, Shohei Imamura, Koji Wakamatsu, Toshio Matsumoto e Tetsuji Takechi. Além de romper a rígida hierarquia dos grandes estúdios, exaltando um cinema político e autoral, esses diretores buscaram, com temáticas controversas, revelar as contradições entre a sociedade japonesa e a ideologia oficial, e os valores cada vez mais materialistas do país naquele período. Como claro movimento de transgressão e subversão, o primeiro desafio desse cinema aos valores da época foi a substituição do discurso do amor romântico, que subjazia em grande parte do cinema japonês, pela materialidade do corpo sexualizado e/ou violado. Ao explorar situações de violência física e psicológica, quase sempre dirigida às mulheres, a produção desses cineastas oscilaria, então, entre dois pólos: o de uma subcultura pornográfica, e o de uma expressão de vanguarda. Pretende-se avaliar como, nessas representações, o corpo funciona como uma potencial – e indiscreta – metáfora política.
    Palavras-chave: Cinema japonês; Representações do corpo violado; Pornografia; Erotismo.

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19/09 - Quinta-feira
  • Paula Alves de Almeida (Instituto de Cultura e Cidadania Femina), Ana Paula Alves Ribeiro (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Luis Felipe Kojima Hirano (Universidade de São Paulo)
    Espaços e representações de negros, grupos indígenas e mulheres no cinema brasileiro contemporâneo (1991 a 2010)
    Pretende-se analisar a intersecção entre gênero, raça e etnia, observando os espaços reservados aos negros, grupos indígenas e mulheres no cinema brasileiro nas últimas décadas. A partir de uma base se dados com cerca de 1.400 filmes de longa-metragem produzidos/lançados entre 1991 e 2010, com variáveis como cor/raça/etnia e sexo dos protagonistas e dos diretores, bem como o gênero e temática do filme, pretendemos refletir sobre as posições ocupadas por negros, grupos indígenas e mulheres nas representações cinematográficas. Analisa-se ainda se existe diferença nessa perspectiva entre os filmes dirigidos por homens ou por mulheres. Esta pesquisa parte das reflexões anteriores de ALVES (O cinema brasileiro pela perspectiva de gênero, 2011), HIRANO (Uma interpretação do cinema brasileiro através de Grande Otelo: raça, corpo e gênero em sua performance cinematográfica, 2008), e RIBEIRO (Construções e desconstruções de identidades étnico-raciais no cinema brasileiro, 2008). Nossa hipótese é que há uma distribuição de papéis desigual para negros, indígenas e mulheres no cinema brasileiro, que os limita em grande parte aos papéis criminalizados, marginalizados e de menor prestígio social:espaços domésticos, periferias e favelas nos grandes centros urbanos e comunidades étnicas.
    Palavras-chave: Marcadores sociais da diferença; Intersecção gênero; Raça e etnia; Cinema brasileiro.

  • Conceição de Maria Ferreira Silva (Ceiça Ferreira) (Universidade de Brasília)
    "Mães de santo, mães de tantos": O feminino negro e o sagrado no cinema brasileiro
    Considerando a interseção das identidades de gênero e raça, este trabalho analisa os repertórios imaginários do feminino negro nos cultos afro-brasileiros, retratados nos filmes “Pureza Proibida” (dirigido por Alfredo Sternheim, 1974) e “Besouro” (dirigido por João Daniel Tikhomiroff, 2009), especialmente por meio das personagens “Mãe Cotinha” e “Mãe Zulmira”. Utiliza as contribuições teóricas e metodológicas dos estudos de cinema, da crítica feminista e dos estudos culturais para investigar tais narrativas cinematográficas, buscando identificar a partir da liderança religiosa dessas matriarcas, novos discursos, formas de visibilidade e estratégias de resistência do feminino negro no cinema brasileiro.
    Palavras-chave: Feminino negro; Cinema brasileiro; Cultos afro-brasileiros.

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  • Maria Cristina Martins (Universidade Federal de Uberlândia)
    E o feitiço se volta a favor da feiticeira: personagens femininas na versão fílmica da lenda africana Kirikú e a feiticeira
    O filme Kirikú e a feiticeira (1998), produzido pelo cineasta Michel Ocelot, é a versão de uma lenda do folclore africano, construída dentro da lógica das narrativas fantásticas. No centro dessa história deparamo-nos com Kirikú, um menino de uma pequena aldeia, perdida no imenso continente africano. Embora pequeníssimo, já nasce sabendo falar e andar e determina seu próprio nome, demonstrando ser bastante curioso e questionador. Esse minúsculo personagem acaba se tornando herói de sua terra, ao vencer a poderosa feiticeira Karabá. Apesar da importância central de Kirikú nessa lenda, duas mulheres também ganham projeção particular: a poderosa, má, linda e temida feiticeira Karabá, considerada até o desfecho da trama como a grande vilã da história, que vive só, cercada de guardiões, à margem da aldeia de Kirikú; e a mãe de Kirikú, mulher jovem, ignorada e até criticada pela aldeia, mas que é decidida, compreensiva e aceita tranquilamente a independência prematura de seu filho, apoiando-o sempre que necessário. A meta deste estudo é demonstrar como se dá a construção dessas personagens femininas em Kirikú e a feiticeira, focalizando de modo especial o tratamento conferido ao feminino maligno, demoníaco, representado pela feiticeira Karabá.
    Palavras-chave: Feminino demoníaco; Narrativa fantástica; Representações do feminino.

  • Juliano Gonçalves da Silva (Universidade Federal Fluminense)
    Mulheres indígenas zapatistas como personagens no cinema latino-americano
    O cinema vem sendo objeto de diferentes leituras e abordagens na atualidade. Dentre estas, alguns autores vêm trabalhando com a ideia do cinema como "campo" no sentido antropológico do termo. Neste ponto podemos dizer que a busca será não só de uma análise fílmica, nos modelos tradicionais, buscando cortes, enquadramentos e demais pontuações técnicas de leitura filmográfica, mas ampliando-se em busca de uma análise fílmica etnográfica, relacionando-a com a possibilidade de uma "descrição densa" da realidade do contexto fílmico. Pretendo nesta comunicação discutir uma das cosmologias, construída sobre a personagem indígena no cinema latino-americano mexicano, através do estudo de como seu universo cultural é por ele construído e veiculado nos filmes de ficção de longa-metragem. Assim identifico as diferentes formas como as personagens indígenas são apresentadas e como se organizam as relações de gênero nestas representações fílmicas, com base no filme Corazón del Tiempo - uma jornada no coração da resistência zapatista (Alberto Córtez, 2008.).
    Palavras-chave: Mulher zapatista; Personagem; Cinema; Cosmologias; Relaçoes de gênero.

  • Cleuza Maria Soares (Universidade Federal de Santa Catarina)
    Mulheres Imigrantes Latinas: atravessando fronteiras no cinema
    No mundo atual marcadamente global, imigrantes pobres que cruzam as fronteiras ilegalmente, para viver noutros países, ficam em situações de extrema vulnerabilidade. O objetivo desse artigo é analisar as narrativas de personagens migrantes femininas nos filmes “A partir do pó” (2003) da cineasta americana Nancy Savoca, e “Babel” do cineasta mexicano Alejandro González Iñnárritu (2006), a partir da estética descolonial e dos estudos pós-coloniais. Em “A partir do pó” a personagem Dolores (Julieta Ortiz) uma salvadorenha que vive ilegalmente nos EUA, com o marido e o filho adolescente, trabalha como faxineira em apartamentos das regiões ricas de Manhattan. Dolores encontra-se estabelecida nos EUA, mas por uma fatalidade é obrigada a retornar ao seu país. Depois tenta voltar novamente aos EUA com passaporte ilegal. Em “Babel”, Amélia (Adriana Barraza), a babá mexicana que cuida de duas crianças nos EUA, vive nos EUA há dezesseis anos, resolve retornar ao México para o casamento de seu filho. Por um incidente com seus patrões que ficam impedidos de cuidar das crianças para Amélia viajar, ela resolve atravessar a fronteira de carro, com seu sobrinho Santiago (Gael Garcia Bernal), ela acaba detida e deportada, quase acusada de sequestro das crianças.
    Palavras-chave: Imigração; Fronteiras; Pós-colonial.

  • Daiany Ferreira Dantas (Universidade Federal de Pernambuco)
    Estética de si no cinema de Naomi Kawase
    O presente trabalho trata das relações entre gênero, produção artística e autorrepresentação no cinema documental mundial feminino contemporâneo, tomando como estudo de caso o filme Nascimento e Maternidade, da diretora japonesa Naomi Kawase. Com uma obra de forte cunho testemunhal, a cineasta chama a atenção pelo fato de que dezesseis de seus mais de trinta filmes são relatos autobiográficos. No média metragem de 2006, observamos uma série de escolhas estéticas que demarcam a subjetividade da autora e seu olhar sobre o corpo, a intimidade e as instâncias da vida das mulheres, ao relatar a doença de sua mãe adotiva e a chegada do primeiro filho. Por meio da análise conceitual e fílmica, identificamos um panorama sensorial no qual o aparato tecnológico e a poética visual se entrelaçam na afirmação de uma poética da existência. Como instrumentos de análise, utilizaremos um marco teórico interdisciplinar, valendo-nos das intersecções entre a filosofia da arte, a estética e os estudos culturais. Tomando como ponto de partida a investigação o conceito de estética da existência proposto por Foucault (1985), que afirma o cuidado de si e o autoconhecimento da própria subjetividade como elementos que poderão ocasionar intersecções entre a experiência da vida e da arte.
    Palavras-chave: Estética de si; Gênero; Cinema documental; Naomi Kawase.

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  • Claudia Santos Mayer (Universidade Federal de Santa Catarina)
    Moolaadé: a quem e como falam as mulheres?
    O questionamento que guia este trabalho emerge das reflexões de Bahri (2004) no texto no qual trabalha a pergunta de Spivak—“can the subaltern speak?” (1988)—, levando-a ao contexto da construção do Terceiro Mundo e da Mulher do Terceiro Mundo pelos feminismos ocidentais. Baseando-me principalmente nas discussões de Bahri, Spivak e Mohanty (1988) acerca da ideia de Terceiro Mundo e de Mulher do Terceiro mundo, e contrastando o conceito de Mulher ideologicamente construído e a experiência de mulheres reais, meu objetivo é observar o filme Moolaadé (2004), dirigido pelo senegalês Ousmane Sembène, tendo em mente a pergunta: a quem e como falam as mulheres? Primeiro, busco caracterizar o contexto específico da experiência dessas mulheres. Depois, busco identificar a quem fala Collé, que inicia um movimento de resistência entre as mulheres da vila ao dar proteção a meninas que fogem do ritual de excisão genital. Após conseguir o apoio das outras mulheres, minha hipótese é que não é mais Collé quem fala, mas sim a comunidade de mulheres que se organiza em torno de uma sujeição comum. Então, procuro observar quais são as estratégias de que as mulheres se utilizam para falar entre si e aos homens, representando-se contra a prática da mutilação genital.
    Palavras-chave: Cinema; África; Feminismo; Representação; Comunidade.

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20/09 - Sexta-feira
  • Marina Cavalcanti Tedesco (Universidade Federal Fluminense)
    Fotografia de homem, fotografia de mulher: uma análise dos filmes "Elvis & Madona" e "Plan B"
    Há quase um século as técnicas da fotografia em movimento vêm sendo sistematizadas em manuais. Ao longo de tantas décadas parte deste material se tornou obsoleto. Não obstante, há ensinamentos nas obras dos anos 1940 que podem ser encontrados quase inalterados nas publicações contemporâneas. A necessidade de diferenciar visualmente homens e mulheres é um deles. Neste artigo, pretendemos estabelecer uma comparação entre tal prescrição e os caminhos percorridos pela fotografia de filmes que problematizam a visão dicotômica de masculino e feminino e a heterossexualidade compulsória. Para isso, analisaremos as produções Plan B (Marco Berger, Argentina, 2009) e Elvis & Madona (Marcelo Laffitte, Brasil, 2010).
    Palavras-chave: Fotografia cinematográfica; Masculinidade; Feminilidade; Heterossexualidade compulsória.

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  • Johnatan Razen Ferreira Guimarães (Universidade de Brasília), Guilherme Crespo Gomes dos Santos (Universidade de Brasilia)
    O Homem da Casa: um estudo sobre masculinidades e colonialismo a partir do filme "Gran Torino"
    A obra cinematográfica “Gran Torino”, dirigida e protagonizada por Clint Eastwood, suscita diversas questões, dentre elas a clivagem entre masculinidades hegemônicas e subalternas e como esta pode informar estruturas colonialistas de controle de populações marginalizadas, objeto de estudo deste artigo. A análise da construção social de papéis de gênero como representada no filme expõe a demarcação de uma masculinidade encarnada pelo personagem de Clint Eastwood, cujas práticas e percepções são apresentadas como elementos necessários de agregação social. Em contraposição, masculinidades subalternas identificadas nos jovens de etnias e nacionalidades diversas são apontadas como ameaças potenciais de disrupção social violenta. No discurso jurídico, essa relação de dominação inscrita na construção dos papéis de gênero se revela na seletividade do sistema penal condenando práticas violentas típicas de identidades masculinas subordinadas, enquanto a violência inscrita em uma masculinidade hegemônica é tolerada e mesmo incentivada.
    Palavras-chave: Gran Torino; Masculinidades; Violência; Colonialismo.

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  • Santiago Luis Navone (Universidad Nacional de Mar del Plata)
    La figura del macho latinoamericano en el filme argentino Martín Fierro de Leopoldo Torre Nilson (1968)
    Este trabajo pretende explorar las representaciones masculinas vinculadas a la figura del gaucho en el filme argentino “Martín Fierro” de Leopoldo Torre Nilson (1968). De manera hipotética, podríamos interpretar que la figura de Martín Fierro en el filme de Nilsson remite a una masculinidad hegemónica latinoamericana. La misma está atravesada por el concepto contradictorio de “macho” ya que el mismo puede ser definido tanto por características negativas: como el desapego de los sentimientos, superioridad sobre las mujeres y el culto a la violencia, como por otras positivas vinculadas a la adhesión a un código ético: la humildad, el honor, el respeto a sí mismo y a los demás. Está complejidad esta plenamente presente en el protagonista: el gaucho violento y el padre portador de consejos que hace las paces con la ley, conviven en un cuerpo de poses activas, firmes y solemnes. Así se presenta una trama romántica donde las características reconciliadoras del personaje prevalecen: el hombre capaz de matar dejará lugar al padre de familia que logra reencontrarse con sus hijos y aconsejarlos sobre el buen camino en la vida. Se constituye una figura masculina acorde a la visión canónica del personaje.
    Palavras-chave: Masculinidades; Cine; Gaucho; Macho.

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  • Cristian Carla Bernava (Universidade de São Paulo)
    “O Vingador do Futuro” e as mudanças na apresentação da violência feminina no cinema contemporâneo
    Uma vez que as imagens da violência feminina são geralmente consideradas como desviantes ou transgressoras, porque se opõem às imagens da mulher “tradicional”, este trabalho visa discutir as mudanças nos padrões de apresentação da violência feminina no cinema das últimas décadas. Para tanto, serão consideradas as duas produções de “O Vingador do Futuro” (1990 e 2012), de modo a revelar, por meio da análise fílmica comparativa, suas diferentes estratégias e possíveis significados no que tange a construção da corporalidade e subjetivação femininas no contexto do cinema contemporâneo.
    Palavras-chave: Violência feminina no cinema; Corpo; Subjetividade.

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  • Marcio Markendorf (Universidade Federal de Santa Catarina)
    Mulheres na estrada: a trajetória das heroínas de "Road Movies"
    A narrativa trivial dos road movies ou filmes de estrada pode ser considerada um produto cultural da modernidade – cada vez mais ensimesmado na metrópole, o sujeito apenas consegue conectar-se consigo mesmo e com o outro em situação de viagem. Por essa razão tal gênero cinematográfico, frequentemente associado à aventura, apresenta personagens que descobrem valores pessoais inexplorados ou desconhecidos e transformam-se interiormente após uma série de peripécias. Assim, ao mesmo tempo em que a estrada expressa uma mudança de geografia física também engendra a alteração das paisagens subjetivas dos viajantes. Os road movies, entretanto, são em sua grande maioria dominados por personagens masculinos intrépidos, marca que parece afirmar no imaginário ocidental a ideia do viageiro como um homem que vai para longe. Com o intuito de questionar o que constitui uma espécie de paradigma do gênero, este trabalho pretende discutir a presença de mulheres nos filmes de estrada, analisando a identidade das protagonistas do filme Thelma & Louise (Thelma & Louise, Ridley Scott, 1991).
    Palavras-chave: Gêneros cinematográficos; Road movie; Mulheres Identidade.

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  • Marta Friederichs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
    Embates entre censura e exibição: o corpo feminino no cinema hollywoodiano da década de 1950
    Na década de 1950, o cinema que era projetado para o mundo era o cinema produzido pela indústria cinematográfia de Hollywood. Como essa indústria almejava constituir-se como um cinema global, capaz de ser veiculado em diversas partes do planeta, fabricava personagens, astros e estrelas com a possibilidade de serem 'verdadeiros-as' para o mundo. Neste texto, valendo-me de uma cena da comédia 'Quanto Mais Quente Melhor', problematizo as tensões entre o que os órgãos que regulamentavam a indústria cinematográfica da época autorizavam e o que escapava a esse controle e aparecia nas telas do cinema, ensinando aos sujeitos os gostos, os espaços e as falas do masculino e do feminino, os códigos do amor romântico e dos prazeres do sexo, os modos de se produzir um determinado corpo, exercendo uma potente ferramenta pedagógica, uma vez que ensinavam formas de ser e estar no mundo, de significar e experimentar o corpo. Para tanto, em uma perspectiva pós-estruturalista, adoto como referência os Estudos Queer e os Estudos Culturais, principalmente as vertentes que se aproximam dos estudos foucaultianos. Busco, também, aproximações com a cartografia e a etnografia de tela, para arriscar uma 'etnocartografia' da cena.
    Palavras-chave: Cinema; Corpo; Educação; Relações de gênero; Sexualidade.

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  • Litiane Barbosa Macedo (Universidade Federal De Santa Catarina)
    Discurso de Gênero em Comedias Românticas Hollywoodianas – “Aconteceu Aquela Noite” e “A Proposta”
    Estudos Feministas do Discurso Crítico têm mostrado como discursos de gênero (re) produz, mantém e negocia pressupostos de gênero e relações de poder em distintos textos. Dentro desta perspectiva, uma critica feminista do discurso de gênero nos permite revelar as ideologias por trás do discurso, no qual possibilita minimizar desigualdades na sociedade (Lazar, 2007). Considerando o papel das mídias nas sociedades contemporâneas do oeste, elas nos expõem a discursos de gênero nos quais oferecem modelos de comportamento (Gauntlett, 2008). Levando-se em conta a existência de discursos que promovem relações desiguais de poder e o importante papel da mídia na construção da identidade, este trabalho visa explorar brevemente como discursos de gênero se articulam em dois diálogos dos filmes “Aconteceu Naquela Noite” (1934) e “a Proposta” (2009). A fim de desvendar as práticas discursivas dos diálogos, eles foram analisados através noção de pressupostos e legitimação presentes no discurso citados por Fairclough (2003). A análise das evidências lingüísticas mostrou que, apesar de algumas mudanças foram realizadas em relação ao comportamento de gênero nas relações heterossexuais, é possível afirmar que a dicotomia da identidade masculina e feminina ainda estão presentes em ambos os filmes.
    Palavras-chave: Análise do discurso crítico e feminista; Comédias românticas; Suposições; Legitimação.

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